Sobre o Cristal Transparente

SOBRE O CRISTAL TRANSPARENTE

A Corda Teatro

«Guardar-me intacta, como um cristal transparente, para quê? Mas não imitemos Jeremias… só na alma é que a lama se não apaga; aquela com que nos salpicam, sai com água limpa.»

in Diário do Último Ano, Florbela Espanca

«O que eu gostei de ti? Era um cristal a minh´alma. Depois um embaraço. Amargura mudada num cansaço, e o nosso amor findou, triste e banal.»

in Outrora, Virgínia Vitorino

O cristal é um sólido no qual os constituintes estão organizados num padrão tridimensional bem definido, que se repete no espaço, formando uma estrutura transparente, delicada, frágil, com uma geometria específica, e que obriga, a quem se relaciona com ele, a ter uma relação análoga às suas próprias características. Ao manusear o cristal, o cuidado é inevitável para não o largar no ar e, na iminência de um desastre, tudo reduz a velocidade a um movimento cinematográfico. O cristal materializa a iminência do fim, tal como o ator em cena está, constantemente, à beira do abismo. 

Encenação e Espaço Cénico DIOGO BACH
Interpretação ANAÍSA RAQUEL e JOANA BASTOS
Figurinos ATELIER CARMINHO
Produção A CORDA
Fotografia ELSA MAURÍCIO CHILDS
Captação de vídeo RUI FELIX 

Florbela Espanca e Virgínia Victorino, duas das maiores poetisas portuguesas contemporâneas, não foram Cinderelas de sapatos de cristal, nem o quiseram ser. Contudo, estas poetisas tatuaram nas suas palavras uma tragédia iminente, de geometria díspar – não só no uso da palavra, como em algumas perspetivas -, mas de estrutura similar, naqueles que são os temas transversais à sua feminilidade e postura feminista. Tatuaram palavras cristalinas, como amor e sofrimento, de força e vulnerabilidade.

Duas mulheres de hoje – ou partes de uma mulher – mensageiras de um tempo que parou, visitam as palavras de Espanca e Vitorino, quase 100 anos depois, servindo a urgência de quem, como hoje, em 2020, quer renascer, sair, ser e ser ouvido. De quem tem urgência em correr lentamente e não quebrar em si algo inevitavelmente quebrantável – o cristal transparente da sua alma.

Diogo Bach, nasceu em Vila Franca de Xira. Mestre em Teatro (especialização em Artes Performativas), pela Escola Superior de Teatro e Cinema; Curso de Canto da Escola de Música do Conservatório Nacional; Certificado de 8º grau em Teatro Musical, pela Trinity College London, com Distinção. Estreou-se no espetáculo A Estrela (2012), no Teatro Maria Vitória. Em Teatro, trabalhou com encenadores como, Rita Ribeiro, Sofia Ângelo, Ruben Saints, Ana Borralho & João Galante, Carlos J. Pessoa, Claudio Hochman, Fernando Gomes, Jorge Gomes Ribeiro, Pedro Penim, Àngel Llàcer, Federico León, entre outros. Membro fundador do coletivo A Corda. Prémio de Melhor Interpretação Principal Masculina no Concurso Nacional de Teatro (2016), pela participação no espetáculo O Bicho do Teatro, de Sofia Ângelo.

Anaísa Raquel iniciou a sua formação teatral no Chapitô e tem vindo a trabalhar em várias áreas artísticas. Participou como atriz nos espetáculos A Salta-Pocinhas, Três e um quarto, O Dragão que lia, As Histórias da Carochinha, O Soldadinho de Chumbo, Um Sonho, Paredes Meias, Dança da Morte, Palco do Crime, Não Há Culpa, Nico – a crise, Trair e Coçar é só começar, Nicolau, Viver é Razo, Cenas Suburbanas, Estas mulheres, Auto da Compadecida, entre outros. Integrou o elenco das novelas Na Corda Bamba e Santa Bárbara, das curtas-metragens Fada Oriana, A Viagem da Sementinha Mágica, Um dia fragmentado e À porta fechada e na longa-metragem Calor e Moscas. Foi assistente de encenação em Noivo por Acaso, Nome Próprio, Estamos Todos, As Mulheres não percebem, Fuga, Apanhados na Rede, entre outros. Co encenou Garota Portuga Procura e encenou Um Sonho.

Joana Bastos nasceu em Lisboa. Fez o Curso de Interpretação na Escola de Teatro de Cascais (1997) e o Curso de Atores do Teatro da Comuna, com João Mota. Teve aulas de canto com o maestro Filipe Carvalheiro. Estreia-se profissionalmente no Teatro em 1998 e desde aí integrou o elenco de diversas peças, nomeadamente, Triângulo, no Teatroesfera; Século da Lua, no Teatro da Trindade; Fantasia para Tr3s, no Teatro Malaposta; Eu Tu e a Terapeuta, no Teatro da Trindade; entre outras. Integrou os elencos de várias telenovelas. Diretora de atores e direção de elenco infantil/juvenil. Argumentista das curtas-metragens, Vidas em Trânsito e MariAna. Frequentou o seminário de Gestão de Projeto por Rui Matoso e o seminário da GDA Isto Não É Só Um Seminário. É membro fundador d´A Corda.

A Corda, Associação Cultural nasce da união de pessoas de percursos diversificados que sentiram a vontade de materializar ideias e ideais comuns entre si. É desta forma que é criada A Corda, um grupo de pessoas que tem como prioridade trabalhar para a comunidade e com a comunidade, por acreditar que essa é a verdadeira vocação da arte.
A Corda apresenta-se, assim, como uma plataforma de criação artística multidisciplinar centrada, primordialmente, no Teatro, na Música e na Literatura, assim como na exploração de diferentes linguagens cénicas. Pretendemos funcionar como uma rede em expansão permanente, através da colaboração com (e a participação de) outros membros da comunidade artística, fomentando a interação e a ligação das diversas formas de trabalho inerentes às artes. Queremos inspirar para depois expirar.
Trata-se, acima de tudo, de trabalhar com a finalidade de contribuir para o crescimento pessoal, colectivo e artístico de cada indivíduo, evoluindo, também nós, nessa partilha com quem nos rodeia, sendo parte ativa da comunidade onde nos inserimos. A Corda tem como princípio basilar exercer uma atividade ligada à comunidade, quer pela produção artística supracitada, quer pela formação nas áreas teatral e musical. Só assim, poderemos contribuir – com o que sabemos e com o que mais gostamos de fazer – para a vida dos contextos socioculturais onde nos inserimos e nos quais agimos, para que, juntos, em comunidade, possamos caminhar em direção a um objetivo comum: a partilha.
A Corda, Associação Cultural representa, deste modo, a unificação de vários fios que formam uma “corda” mais forte e segura, que liga as nossas aspirações e as suas respetivas concretizações e nos aproxima da cultura e da comunidade onde nos integramos.

TEATRO

2020 | AGO 1 a 16

SÁB – 21H30
DOM – 16h30

AUDITÓRIO

10€ | DESCONTOS APLICÁVEIS

40 MINUTOS

M/12

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