PARA VÓS
de Cláudia Andrade
Para os meus avós. Mais especificamente sobre as minhas avós. Para todos os avós ou para todos nós, que um dia, talvez, seremos também avós. Para os avós dos meus filhos (como seria o mundo se tivéssemos crescido todos sem avós?). Para a voz. Para a minha voz. Que se lance, que se solte, e talvez em alguma primavera, floresça. Para as vozes que se não falam agora serão, talvez, esquecidas para todo sempre.
Para Vós é um solo coral sobre o lugar onde vivem as memórias. É um espetáculo sobre raízes. Sobre a voz humana que é ancestral. Sobre histórias de outros tempos que não estão escritas nos livros, mas semienterradas em algum lugar recôndito da nossa memória. Sobre o que é intemporal. Sobre os mistérios do sangue.
Este é um espetáculo sobre os meandros da memória. Sobre as memórias das minhas avós ou mais exatamente sobre a minha memória das memórias delas.
Entre a ficção e a memória, o espetáculo pretende criar uma dialética entre passado e presente, como fonte de respostas às questões que nos intrigam – a nossa origem, a nossa identidade e o nosso papel no mundo. Entretanto, há dança, há broa de milho de Canelas, batidos de ADN, há saudades de uma bebinka bem feita. Há um concurso para descobrir a avó mais parecida, canções de trabalho, histórias de mães controladoras, a trágica morte de Isadora Duncan, o primeiro voo homologado da história da aviação e um herói nacional que se enforca com uma gravata quando as suas asas começam a ser usadas como armas de guerra. Há referências históricas e referências íntimas, há incógnitas e revelações. E há a promessa de um retorno a casa, e de regressar ao aqui e agora.
À semelhança do que acontece nas tragédias gregas, este espetáculo irá contar com um coro de anciãs. São elas que irão ajudar a contar a história, ora observando, comentando, julgando ou apoiando a trama cénica. Para vós assume-se como solo acompanhado, um solo coral, uma vez que irá convidar um conjunto de idosas a juntarem-se ao projeto. Não estabelecendo nenhum limite etário, estas mulheres são seniores que poderão ser ou não avós. A participação deste coro de sete mulheres, tomará forma através de uma residência artística na qual seja possível ouvir e integrar as suas histórias de vida no espetáculo e ensaiar as partes corais. Durante uma semana, trabalharemos juntas, partilhando histórias, receitas e confidências. Desta forma, o que se pretende é criar uma dinâmica viva e mutável, um espetáculo único de cada vez que é apresentado, colecionando cada vez mais histórias e avós.
Criação e Direção Artística CLÁUDIA ANDRADE
Interpretação CLÁUDIA ANDRADE e 7 SENIORES
Apoio à Encenação MONTSE BONET
Apoio à Dramaturgia JOANA BÉRTHOLO
Direção de Produção SÃO CORREIA
Vídeo e Registo Fotográfico PATRÍCIA POÇÃO
Figurinos RUY MALHEIRO
Assistência Artística MAFALDA ALEXANDRE
Banda Sonora FERNANDO MOTA
Desenho de Luz PEDRO FONSECA
Design SÍLVIA FRANCO
Fotografia PATRÍCIA POÇÃO
Coprodução A CARAVANA ASSOCIAÇÃO CULTURAL | CENTRO DE ARTE DE OVAR | COMPANHIA DE ACTORES | CENTRO DE ARTES DE ÁGUEDA, CENTRO CULTURAL/MUNICÍPIO DE LAGOS | CENTRO DAS ARTES E DO ESPECTÁCULO DE SEVER DO VOUGA
Cláudia Andrade é diplomada em Interpretação/Teatro do Gesto pela Escola Estudis de Teatre (Barcelona), é mestre em Teatro e Comunidade pela ESTC (Escola Superior de Teatro e Cinema). Trabalha como actriz desde 1993, em diversos projetos com o Teatro do Vestido, Útero, Teatro Meridional, Teatro da Cornucópia, o Trigo Limpo teatro ACERT, companhia da Esquina, Quarto Período-o-do-Prazer, o Teatro do Morcego, o Théâtre de la Mezzanine, Cia Jordi Bertrán, Próxima Estação, Companhia Limitada, Útero, entre outros. Teve formação com Teodoros Terzopoulos, Marcia Haufrecht, Neville Tranter, Norman Taylor, Alain Gautré, Philippe Gaulier, Christophe Marchand, Claire Heggen e Monika Pagneux em diversas áreas como movimento, clown, bufão, manipulação de marionetes, canto e dança aérea. Colaborou e concebeu vários projetos para o serviço educativo do CCB, do Teatro Maria Matos e Culturgest, tendo desenvolvido vários projetos na área de teatro comunitário, como é o caso de Um Elo chamado Jarmelo (com as populações do Jarmelo), Cientistas ao Palco (integrado na European Researchers’ Night), Inesquecível Emília (no Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo) e Guardadores (Teatro Municipal da Guarda). Tendo também participado num intercâmbio artístico com o grupo de teatro comunitário Pompapeytriasos (Buenos Aires, Argentina). É autora do livro “Coro: Corpo Colectivo e Espaço Poético-Interseções entre o teatro grego antigo e o teatro comunitário”, editado pela Imprensa de Coimbra (2013) e autora do capítulo “Coro e Teatro Comunitário – Em busca de um corpo coletivo e de um espaço poético” integrado na obra “Arte e Comunidade”, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian (2015).