FILOCTETES
Hipérion Projeto Teatral
“«Sobre o meu rochedo, sozinho com os meus abutres», este grito desesperado de Filoctetes poderia ser o mote para o texto de Heiner Müller, Philoktet, escrito entre 1958 e 1964 e estreado em Munique, no Residenz Theater, em 1968. Forçado ao exílio na ilha de Lemnos pelos seus irmãos gregos, uma ilha deserta no Mar Egeu, repleta de abutres, Filoctetes, doente, mordido por uma serpente, guardiã do Templo da deusa Crise, amargurado, sobrevive a dez anos de sofrimento, os dez anos que dura a Guerra de Tróia. Abandonado pelos homens, mas não pelos deuses, descendo à condição de homem primitivo e selvagem, que habita uma gruta e se alimenta de caça, este anti-herói tornar-se-á imprescindível para a conquista de Tróia, através da sua presença e do seu arco e flechas, que Hércules lhe deixou. O que está em causa agora neste Filoctetes do século contemporâneo, aquilo que assinala o centro desta peça de Müller, é a substituição de um conflito moral sobre o respeito e a honra grega, do século V a.C., em que há homens, deuses e oráculos, num conflito puramente humano, na luta do homem de hoje contra a opressão, um ajuste de contas contra o estalinismo. Müller despe a versão original do texto de Sófocles do seu lado sagrado, de qualquer moral, sem deuses nem questões de honra, orientando-o para uma dramaturgia que ele transforma num manifesto contra a guerra e o imperialismo, contra a corrupção dos sistemas políticos contemporâneos, pelos direitos das minorias, denunciando a ascensão de todos os despotismos, nomeadamente na Europa. Aquilo que em Sófocles é uma razão dos deuses, uma profecia, a necessidade de Filoctetes entrar na guerra para que os gregos a vençam, é em Müller uma razão de Estado, uma causa coletiva, superior à vida do protagonista. A peça de Müller permite uma reflexão sobre as várias camadas de que é feito o nosso tecido social, colocando os humanos diante das suas próprias contradições.”
Jaime Rocha
Texto HEINER MÜLLER
Tradução JOSÉ MARIA VIEIRA MENDES
Encenação MÁRIO TRIGO, COM JAIME ROCHA
Dramaturgia JAIME ROCHA E MÁRIO TRIGO
Interpretação FILIPE ARAÚJO, MIGUEL COUTINHO E PEDRO JESUS
Espaço Cénico e Assistência à Produção NISA ELIZÁRIO
Figurinos JOANA SABOEIRO
Direção Técnica SHOWVENTURA
Teaser RICARDO REIS
Fotografia e Design TÂNIA CADIMA
Gestão e Direção de Produção JOANA FERREIRA
Produção HIPÉRION PROJETO TEATRAL
Aristóteles define o ser humano como um agente político configurado num Estado de Direito. É partindo deste axioma que, na HIPÉRION, nos constituímos enquanto criadores livres. Sendo o teatro um espaço coletivo de discussão, pretendemos, por intermédio de um trabalho dramatúrgico consistente, compartilhar a valia de artistas com referências culturais múltiplas. Diferentes maneiras de olhar expressam alteridades de pensamento que têm tradução direta no modo como artistas e público se relacionam, se contrapõem e se identificam. Numa palavra, visões diferenciadas engrandecem a criação teatral. Consideramos qualquer tipo de violência uma manifestação pequena da humanidade. Parafraseando Lautréamont, há horas nas nossas vidas em que lançamos o olhar às membranas do espaço, porque nos pareceu ouvir lá em cima os apupos de um fantasma. Ele vacila e curva a cabeça, se de uma cabeça se trata: o que de lá ouvimos é a voz da nossa consciência. Abrimos as portas e é no isolamento da noite que procuramos um lugar, qualquer lugar, onde possamos trabalhar, desenhando alguma coisa dentro de cena. É dizer, procuramos uma redenção. Que consolo nos poderão trazer os dias que correm?
©Fotografia de capa TÂNIA CADIMA
TEATRO
2O21 | NOV 11 a 21
QUI a SÁB – 2OH3O
DOM – 16HOO
AUDITÓRIO
12€ | DESCONTOS APLICÁVEIS
9O MINUTOS
M/14
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