FILME E FOTOGRAFIA NA SALA CINZENTA
Inês Inácio
Uma mulher encontrou uma gaveta com fotografias. As fotografias dela, com ela. É só disso que se lembra, agora, naquela sala cinzenta onde é interrogada por uma inspetora, semelhante aos polícias que via nos filmes a preto e branco. Para encontrar a origem das fotografias, é necessário recuar nas suas memórias e da sua principal interlocutora, a inspetora, para aquele lugar no tempo onde era tudo tão nítido. Rebobinam até onde a película começou, onde elas não sabiam que tinha começado e onde os factos eram somente hipóteses de uma história de amor, heróis e vilões, que pode nem ter acontecido.
A peça “Filme e Fotografia na Sala Cinzenta” tem origem num conto escrito em 2O2O, por Inês Inácio, que se desenvolveu como uma dramaturgia durante os anos de 2O2O e 2O21, inspirada nas obras de Paul Auster e José Cardoso Pires. A narrativa tem como ponto de partida uma gaveta com fotografias, encontradas por ELA, a personagem principal desta peça. Essas fotografias foram capturadas por ELA 2, com quem vem a desenvolver um vínculo romântico e afetivo muito forte, impulsionado pelo envolvimento desta outra mulher nos acontecimentos políticos que marcaram os movimentos de resistência da clandestinidade à época. As imagens fotografadas desdobram-se em momentos íntimos das duas mulheres, manifestações, motins e violência policial, desenhando o universo visual sobre o qual a peça se desenvolve.
A criação desta peça é inspirada também pelas histórias de luta e sobrevivência, durante a época do Estado Novo. Isto para lembrar que a História se repete e que a memória tem de ser sempre exercitada para que não acabemos servos do esquecimento. Neste sentido, “Filme e Fotografia na Sala Cinzenta” segue uma linha narrativa anacrónica, com recuos no tempo e regressos constantes ao presente, através das conversas entre a INSPETORA e ELA. A sua localização temporal é indefinida, sabendo-se apenas que se está num passado que pode muito bem ser um presente, o agora.
É uma peça sobre mulheres que se ligam entre si através de fotografias, através do tempo, da memória, do amor e da política. E porque se fala em memória fala-se também no esquecimento, na plasticidade do nosso cérebro em substituir, renovar ou até manipular memórias que julgamos intactas, algumas que nem foram vivenciadas.
Texto e Direção INÊS INÁCIO
Cocriação e Interpretação ANDRÉ MEXIA, BEATRIZ RODRIGUES, BRUNA ROCHA, DAVID DOS SANTOS, INÊS BELLO, INÊS INÁCIO E INÊS MONTEIRO
Criação e Interpretação Musical TATIANA DAMAYA
Assistência à Criação Musical CAROLINA NÓBREGA
Cenografia DAVID DOS SANTOS
Desenho de Luz INÊS MONTEIRO
Operação de Luz TIAGO ESTREMORES
Design Gráfico e Identidade Visual do Projeto INÊS GOMES
Fotografias usadas em Cena BEATRIZ GASPAR
Fotografia de Cena AFONSO MOLINAR
Vídeo (gravação do espetáculo) CARLOS TAVARES PEDRO
Produção Executiva BRUNA ROCHA
Apoio à Residência CENTRO CULTURAL MALAPOSTA, MINUTOS REDONDOS, CÂMARA MUNICIPAL DE ODIVELAS
Apoio à Comunicação GERADOR
Agradecimentos AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE SÃO JOÃO DA TALHA, CAL – PRIMEIROS SINTOMAS, BEATRIZ GASPAR, CAROLINA VOUGA, CATARINA BRITO, CELESTE E MANUEL RIBEIRO, DANIEL COIMBRA, FERNANDO CARVALHO, GUILHERME MENDONÇA, HENRIQUE ANTUNES, HOMEM DA GARAGEM, LEONARDO GARIBALDI, LÚCIA OLIVEIRA, MICAEL COELHO, PEDRO LEITE, RANIELE BARBOSA E VIOLETA D’AMBROSIO
ANDRÉ MEXIA nasceu em 1998 e reside na Marinha Grande. É licenciado em Teatro pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e estagiou na companhia de teatro O Bando, entre fevereiro e julho de 2O2O. Escreveu e participou no espetáculo “Por Hoje é Só” e participou no festival Caldas Late Night e no Festival SET. Durante a sua licenciatura, atuou em vários projetos apresentados em contexto académico.
BEATRIZ GASPAR nasceu em 2OOO e reside em Lisboa. Licenciada em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa, Beatriz Gaspar desenvolve a sua pesquisa artística entre as artes performativas e visuais. Integrou, em 2O2O, um programa de estudos no departamento Devised and Object Theatre da Academia de Artes Performativas, em Praga. Veio a debruçar-se sobre a criação artística no domínio da imagem numa ótica de transdisciplinaridade e experimentação entre territórios. Em contexto académico e formativo, trabalhou com Carlos Pessoa, Sara Belo, Patrícia Portela, Yael Karavan, Pedro Gil e Sara Franqueira. Trabalha atualmente como criadora emergente na área do teatro, com foco no universo da instalação performativa.
BEATRIZ RODRIGUES nasceu em 1997. Licenciada em Jornalismo, concluiu em 2O22 o curso de formação de atores na Act – Escola de Atores em Lisboa, de onde é natural. No projeto final participou numa curta-metragem, criada em conjunto com Ana Clemente, apresentada na Cinemateca e também na peça “Chorus Line”, encenada por António Pires e que estreou no Teatro do Bairro.
BRUNA ROCHA nasceu em 2OO1 e é natural de Castro Daire, onde participou em vários projetos de teatro amador, tendo também trabalhado com a companhia Teatro do Montemuro. No ano de 2O19 iniciou a sua licenciatura em Teatro, na Escola Superior de Artes e Design, Caldas da Rainha e integrou diversos projetos quer teatrais, quer audiovisuais. Fez parte da peça final de licenciatura “Biblioteca das Raparigas” (2O22), com texto e direção de Joana Craveiro, para um conjunto de jovens atrizes-criadoras, que estreou no Teatro da Rainha, Caldas da Rainha. Realizou o seu estágio curricular na companhia Hotel Europa, tendo participado como intérprete e cocriadora no projeto “A Mina”, de André Amálio e Tereza Havlíčková, que estreou no Teatro Carlos Alberto, Porto.
DAVID DOS SANTOS nasceu em 1998 e é de Aveiro. É formado em Artes do Espetáculo – Interpretação, pelo Conservatório de Música da Jobra e, mais recentemente, licenciado em Teatro pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, tendo estagiado na companhia Teatro do Vestido. No seu percurso como artista o contar histórias, a importância do texto e a criatividade de utilizar a voz são os pilares em que se baseia para a arte que quer oferecer ao mundo.
INÊS BELLO nasceu em Lisboa em 1998. Fez parte do Grupo de Teatro de Letras (GTL) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, dirigido por Ávila Costa e neste contexto apresentou-se na peça “Imagens e Reflexos” a partir de Jean Genet, na 18ª edição do FATAL, Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa. É licenciada em Teatro pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, onde participou em diversos projetos focados em diversas temáticas sociais, nomeadamente relacionados com a comunidade LGBTQIA+. Estagiou na companhia de teatro Primeiros Sintomas e participou, em 2O21, no Laboratório Coreográfico, lecionado por Maria Ramos no Fórum Dança.
INÊS GOMES é natural das Caldas da Rainha, onde nasceu a 18 de abril de 1999. Tirou licenciatura em Artes Visuais e Multimedia pela Universidade de Évora e mestrado em Design e Cultura Visual no IADE, em Lisboa. É nas formas orgânicas e nos corpos grotescos que procura encontrar novas estéticas e onde explora várias composições gráficas. Tem desde a sua formação participado em vários projetos como The Seed Projects e Caldas Late Night. Fez também parte da exposição Lisboa Capital Verde na Sociedade Nacional de Belas Artes e do ILUSTRA33 na semana criativa de Lisboa.
INÊS INÁCIO nasceu em 1999, nas Caldas da Rainha e é natural de Bombarral, onde entre 2O15 e 2O16, fez parte dos workshops de Teatro “Escola de Teatro Anrique da Mota”. Em 2O17 ingressou na licenciatura de Teatro da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e nesse primeiro ano, apresentou, no festival Caldas Late Night, a peça que escreveu em cocriação intitulada “A Pele Que me Quiseram Arrancar”, que tinha como base a recolha de relatos e fragmentos de notícias sobre a comunidade LGBTQIA+. Já em 2O19 apresentou as peças “Mariposa” e “Chá para Três”, escritas e encenadas pela própria. No ano de 2O2O fez parte da peça final de licenciatura “Manual de Instruções”, uma cocriação dos alunos em conjunto com Joana Craveiro e apresentada no Centro Cultural e Congressos das Caldas da Rainha. Estagiou na KARNART, companhia que se dedica ao Perfinst.
INÊS MONTEIRO nasceu em 1996 e é natural de São João da Madeira. Formou-se em Artes de Espetáculo – Interpretação do Conservatório de Música da Jobra e em 2O17 ingressou na licenciatura em Teatro na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha. Em 2O2O, fez parte da peça de final de licenciatura “Manual de Instruções”, uma cocriação dos alunos em conjunto com Joana Craveiro e apresentada no Centro Cultural das Caldas da Rainha e no decurso do mesmo ano realizou o seu estágio curricular na companhia Teatro do Vestido, tendo colaborado em diversos projetos como atriz ou assistente de produção.
TATIANA DAMAYA nasceu em 2OOO e é natural de Oliveira do Bairro, onde estudou música (instrumento: Guitarra Clássica) durante 8 anos no Conservatório de Música da Bairrada. Licenciou-se em Teatro na Escola Superior de Artes e Design (Caldas da Rainha) e desde então que artisticamente realizou diferentes projetos enquanto atriz, sonoplasta, operadora de vídeo e som, em entidades como Teatro do Vestido e IFICT (Lisboa).
© Fotografia INÊS GOMES
TEATRO
ESTREIA
2O23 | ABR 13 a 16
QUI a SÁB – 2OH3O
DOM – 16H3O
SALA EXPERIMENTAL
1O€ | DESCONTOS APLICÁVEIS
6O MINUTOS
M/14
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