FILME E FOTOGRAFIA NA SALA CINZENTA

FILME E FOTOGRAFIA NA SALA CINZENTA

Inês Inácio

Ela encontrou uma gaveta com fotografias. Só isso. Uma gaveta com fotografias na casa dela. É só disso que se lembra, agora, naquela sala cinzenta onde é interrogada por uma inspetora que se assemelha muito aos polícias que via nos filmes a preto e branco. É só disso que se quer lembrar. Por ser necessário recolher todos os factos, é exigido que rebobine, que volte mesmo lá para trás, onde a película começou. Onde ela não sabia que a película tinha começado. E onde, talvez pela má qualidade do filme, os factos eram somente hipóteses de uma história de amor, heróis e vilões que podia nem ter acontecido.

Texto e Direção INÊS INÁCIO
Cocriação e Interpretação ANDRÉ MEXIA, BRUNA ROCHA, DAVID DOS SANTOS, INÊS BELLO, INÊS MONTEIRO E VIOLETA D’AMBROSIO
Criação e Interpretação Musical TATIANA DAMAYA
Assistência de Encenação BEATRIZ GASPAR
Cenografia BRUNA ROCHA
Figurinos INÊS MONTEIRO
Desenho de Luz BRUNA ROCHA E INÊS MONTEIRO
Assistência de Cenografia ANDRÉ MEXIA
Design Gráfico e Identidade Visual do Projeto INÊS GOMES
Produção Executiva BRUNA ROCHA

A peça “Filme e Fotografia na Sala Cinzenta” tem origem num conto escrito em 2O2O, por Inês Inácio, que se desenvolveu como uma dramaturgia durante os anos de 2O2O e 2O21, inspirada nas obras de Paul Auster e José Cardoso Pires. “Filme e Fotografia na Sala Cinzenta” tem como ponto de partida uma gaveta com fotografias, encontradas por ELA, a personagem principal desta peça. Essas fotografias foram capturadas por ELA 2, com quem mantém um relacionamento. O conteúdo destas fotografias intercala-se entre momentos íntimos das duas raparigas, manifestações, revoluções e violência policial.

A criação desta peça inspira-se também nas vivências e lutas do passado, durante o Estado Novo, para lembrar que as histórias se repetem e que a memória tem de ser sempre exercitada, para que não se acabe servo do esquecimento. Neste sentido, “Filme e Fotografia na Sala Cinzenta” segue uma linha narrativa anacrónica, com recuos no tempo e regressos constantes ao presente, através das conversas entre a INSPETORA e ELA. A sua localização temporal é indefinida, sabendo-se apenas que se está num passado que pode muito bem ser um presente, o agora.

O surgimento de movimentos de extrema-direita e as lutas contra regimes repressivos na presente época, acorda-nos para realidades que nunca vivemos e esta peça veicula também a luta contra o esquecimento; é uma ficção que podia muito bem ser uma história verdadeira, de pessoas reais e que muitas delas são eliminadas pelos regimes opressivos ou pelo que sucede após ditaduras, uma necessidade de apagar a parte mais negra da história de um país.

É uma peça fundamentalmente sobre mulheres, sobre amor entre mulheres. Essa representatividade é cada vez mais urgente pela invisibilidade da comunidade LGBTQIA+ e das narrativas com foco nessa mesma minoria. Com isto, não se pretende que a peça seja somente sobre isso, mas sim parte disso. Pois estas mulheres ligam-se através de fotografias, do tempo, da memória e da política. E porque se fala em memória fala-se também no esquecimento, na plasticidade do nosso cérebro em substituir, renovar ou até manipular memórias que julgamos intactas, algumas que nem foram vivenciadas.

ANDRÉ MEXIA nasceu em 1998 e reside na Marinha Grande. É licenciado em Teatro pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e estagiou na companhia de teatro O Bando, entre fevereiro e julho de 2O2O. Escreveu e participou no espetáculo “Por Hoje é Só” e participou no festival Caldas Late Night e no Festival SET. Durante a sua licenciatura, atuou em vários projetos apresentados em contexto académico.

BEATRIZ GASPAR nasceu em 2OOO e reside em Lisboa. Licenciada em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa, Beatriz Gaspar desenvolve a sua pesquisa artística entre as artes performativas e visuais. Integrou, em 2O2O, um programa de estudos no departamento Devised and Object Theatre da Academia de Artes Performativas, em Praga. Veio a debruçar-se sobre a criação artística no domínio da imagem numa ótica de transdisciplinaridade e experimentação entre territórios. Em contexto académico e formativo, trabalhou com Carlos Pessoa, Sara Belo, Patrícia Portela, Yael Karavan, Pedro Gil e Sara Franqueira. Trabalha atualmente como criadora emergente na área do teatro, com foco no universo da instalação performativa.

BRUNA ROCHA nasceu em 2OO1 e é natural de Castro Daire, onde participou em vários projetos de teatro amador. No ano de 2O19 iniciou a sua licenciatura em Teatro na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e fez parte de diversos projetos quer teatrais, quer audiovisuais. Encontra-se atualmente no último ano, em estágio curricular na companhia de teatro Hotel Europa, após ter feito parte da peça final de licenciatura “Biblioteca das Raparigas” (2O22), com texto e direção de Joana Craveiro para um conjunto de jovens atrizes-criadoras e que estreou no Teatro da Rainha.

DAVID DOS SANTOS nasceu em 1998 e é de Aveiro. É formado em Artes do Espetáculo – Interpretação, pelo Conservatório de Música da Jobra e, mais recentemente, licenciado em Teatro pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, tendo estagiado na companhia Teatro do Vestido. No seu percurso como artista o contar histórias, a importância do texto e a criatividade de utilizar a voz são os pilares em que se baseia para a arte que quer oferecer ao mundo.

INÊS BELLO nasceu em Lisboa em 1998. Fez parte do Grupo de Teatro de Letras (GTL) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, dirigido por Ávila Costa e neste contexto apresentou-se na peça “Imagens e Reflexos” a partir de Jean Genet, na 18ª edição do FATAL, Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa. É licenciada em Teatro pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, onde participou em diversos projetos focados em diversas temáticas sociais, nomeadamente relacionados com a comunidade LGBTQIA+. Estagiou na companhia de teatro Primeiros Sintomas e participou, em 2O21, no Laboratório Coreográfico, lecionado por Maria Ramos no Fórum Dança.

INÊS GOMES é natural das Caldas da Rainha, onde nasceu a 18 de abril de 1999. Tirou licenciatura em Artes Visuais e Multimedia pela Universidade de Évora e mestrado em Design e Cultura Visual no IADE, em Lisboa. É nas formas orgânicas e nos corpos grotescos que procura encontrar novas estéticas e onde explora várias composições gráficas. Tem desde a sua formação participado em vários projetos como The Seed Projects e Caldas Late Night. Fez também parte da exposição Lisboa Capital Verde na Sociedade Nacional de Belas Artes e do ILUSTRA33 na semana criativa de Lisboa.

INÊS INÁCIO nasceu em 1999, nas Caldas da Rainha e é natural de Bombarral, onde entre 2O15 e 2O16, fez parte dos workshops de Teatro “Escola de Teatro Anrique da Mota”. Em 2O17 ingressou na licenciatura de Teatro da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e nesse primeiro ano, apresentou, no festival Caldas Late Night, a peça que escreveu em cocriação intitulada “A Pele Que me Quiseram Arrancar”, que tinha como base a recolha de relatos e fragmentos de notícias sobre a comunidade LGBTQIA+. Já em 2O19 apresentou as peças “Mariposa” e “Chá para Três”, escritas e encenadas pela própria. No ano de 2O2O fez parte da peça final de licenciatura “Manual de Instruções”, uma cocriação dos alunos em conjunto com Joana Craveiro e apresentada no Centro Cultural e Congressos das Caldas da Rainha. Estagiou na KARNART, companhia que se dedica ao Perfinst.

INÊS MONTEIRO nasceu em 1996 e é natural de São João da Madeira. Formou-se em Artes de Espetáculo – Interpretação do Conservatório de Música da Jobra e em 2O17 ingressou na licenciatura em Teatro na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha. Em 2O2O, fez parte da peça de final de licenciatura “Manual de Instruções”, uma cocriação dos alunos em conjunto com Joana Craveiro e apresentada no Centro Cultural das Caldas da Rainha e no decurso do mesmo ano realizou o seu estágio curricular na companhia Teatro do Vestido, tendo colaborado em diversos projetos como atriz ou assistente de produção.

TATIANA DAMAYA nasceu em 2OOO e é natural de Oliveira do Bairro, onde estudou música (instrumento: Guitarra Clássica) durante 8 anos no Conservatório de Música da Bairrada. Licenciou-se em Teatro na Escola Superior de Artes e Design (Caldas da Rainha) e desde então que artisticamente realizou diferentes projetos enquanto atriz, sonoplasta, operadora de vídeo e som, em entidades como Teatro do Vestido e IFICT (Lisboa).

VIOLETA D’AMBROSIO nasceu em 1998 em Lisboa. Em 2O16 terminou o curso profissional de Artes do Espetáculo – Interpretação, tendo a possibilidade de estagiar na Sociedade Guilherme Cossoul. Em 2O16 ingressou no curso de formação de atores da Academia Mundo das Artes (AMA). No teatro estreou-se em 2O16 no Festival da Paixão, organizado pela Sociedade Guilherme Cossoul, com o espetáculo “Auricolérica e Teleufórica “de Susana Palmerston. Em 2O19 participa no espetáculo da companhia do Teatro do Vestido “Ocupação”, de Joana Craveiro, no Teatro Municipal S. Luiz e em 2O21 participa no espetáculo da mesma companhia, “Juventude Inquieta”, de Joana Craveiro, no Teatro Nacional D. Maria II. Em televisão estreia-se em 2O2O, na telenovela “Corda Bamba”, da TVI. Em 2O21 faz também uma participação na telenovela “Para Sempre”, da TVI. Mais recentemente, no final de 2O21, fez uma participação no telefilme “A Consoada”. No cinema participou em curtas-metragens de âmbito académico, destacando “Intermitências de um Desamor Contemporâneo”, de André Badalo. Atualmente, frequenta o curso de Línguas, Literaturas e Culturas, no qual ingressou em 2O16, realizando apenas um ano letivo.


© Fotografia
BRUNA ROCHA

RESIDÊNCIA

2O22 |AGO 3O e 31 + SET 1O e 11

CAFÉ-TEATRO

Residência artística não aberta ao público

[TEATRO]

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