COSMOGONIAS_ELES NÃO NOS PODERÃO MATAR O ESPÍRITO
Elizabete Francisca
Uma extensão do solo a besta, as luas, no qual enunciamos uma representação possível da geografia política de um corpo não submisso. Agora numa abordagem cuja frontalidade do gesto potencialmente erótico, será substituída pela sua dilatação e diluição.
“COSMOGONIAS_eles não nos poderão matar o espírito” (título provisório) parte da reflexão sobre a heterossexualidade como regime político, fundado através da escravização das mulheres*. Uma ideia que assenta no questionamento não só da divisão e categorização de género, mas que também se impõe em termos de conflito de classe. Categorizações essas que perpetuam sistemas de opressão sobre as mulheres e sobre comunidades à margem, como a LGBTQI+, e que inviabilizam a existência de comunidades cada vez mais interseccionais, múltiplas, justas e livres, na tentativa de, a cada dia, escaparmos a extremismos e a guetos, mas sobretudo, à violência.
Tomando estas questões como essenciais no pensamento de como construir um corpo, e de como esse mesmo corpo é apresentado política e socialmente, Elizabete Francisca pretende criar uma peça coreográfica, que se torna a extensão do solo a besta, as luas, na qual enuncia, através de gestos e sons, uma representação possível da geografia política de um corpo não submisso. No fundo reivindicar cada corpo como lugar autónomo, singular e legítimo, procurando estar cada vez mais próximo de uma verdade, e por isso intimidade, força e emancipação, mesmo que sempre, numa rede de paradoxos. Algo indestrinçável de uma preocupação (e urgência) em dar voz a um ativismo pessoal, político e social.
Apoio à Residência ASSOCIAÇÃO LUZLINAR/ PROJECTO PONTES, MUSIBÉRIA, DARC – DESTERRO, CENTRO CULTURAL MALAPOSTA
Apoio Financeiro FUNDAÇÃO GDA
ELIZABETE FRANCISCA é coreógrafa, bailarina e performer. Trabalhou com Vera Mantero, Loic Touzé, Ana Borralho & João Galante, Tânia Carvalho, Mariana Tengner Barros, Mark Tompkins, Meg Stuart, Miguel Pereira, Vânia Rovisco, Rita Natálio, Tonan Quito, Carlos Manuel de Oliveira, Carlota Lagido e Marília Rocha entre outros. Do seu próprio trabalho destaca os duetos criados em colaboração com Teresa Silva “Leva a mão que eu levo o braço” e “Um Espanto Não Se Espera”, ambos vencedores do concurso Jovens Criadores; os solos “TSUNAMISMO, recital para duas cordas em M” e “a besta, as luas”; e “Dias Contados”. Foi artista associada da estrutura Materiais Diversos dirigida por Tiago Guedes entre 2011-2013. Atualmente é apoiada pela estrutura O Rumo do Fumo, de Vera Mantero e faz parte do coletivo de artistas da Apneia Colectiva.
KINO SOUSA vive e trabalha em Lisboa desde 2014. É músico, DJ, jornalista, tradutor e investigador independente na área da música. Licenciado em Sociologia, é mestre em Ciências Sociais, especialidade em Comunicação Pública e Política, pela Escola de Ciências Políticas de Bordéus (Sciences Po Bordeaux). Como músico, colaborou recentemente com Rita Vilhena e Yael Karavan na peça “Ma-Ma” (2020), e com a coreógrafa Elizabete Francisca em “COSMOGONIAS_a besta, as luas” (2020), “Apanhar o Sol – Saudação ao Sol” (intérprete Luís Guerra; 2020), e “Não obedecemos porque somos molhadas” (intérpretes Mariana Tengner Barros e Elizabete Francisca; 2018). Com a mesma coreógrafa, colaborou na peça “Dias Contados” (2019) no apoio à criação, investigação e redação de textos. Em 2017 integrou a tournée europeia da banda iZem (Soundway Records), enquanto músico de palco (sintetizador/teclado e guitarrista).
© Fotografia ELIZABETE FRANCISCA