CANTAR Residência

CANTAR

Um Cavalo Disse Mamãe

As pessoas fazem grandes deslocações para continuarem a existir. As baleias deslocam-se para se alimentar, acasalar e, nesse percurso, cantam. Imaginamos uma peça onde as baleias se deslocam e com o seu cantar provocam uma revolução ou, pelo menos, uma saudade. As baleias são enormes. Cantar é de graça, relaxa, faz as crianças dormirem e pode fazer adultos acordarem. CANTAR é um álbum de Gal Costa. Que relações existem entre a Gal, baleia, exílio, antropofagia, multiculturalismo, “desterritórios”, refúgio?

Em 1974 Gal Costa lançou o álbum “Cantar”, um dos mais icónicos da música brasileira, sinónimo de resistência. O Brasil vivia uma ditadura: artistas, intelectuais e políticos da oposição foram exilados e silenciados. Gal foi uma das figuras emblemáticas do movimento Tropicalista; com a sua voz doce, estridente e provocante, conseguiu questionar uma certa (des)ordem política, ética e social. Muitos foram forçados ao exílio, fugindo à prisão e morte. Ditaduras e fascismo continuaram a surgir. Queremos construir uma fábula onde cantamos e dançamos coisas que precisam de ser ditas para, como diz Milton Nascimento, “fazer acordar os adultos e adormecer as crianças”. Dos dispositivos explorados em Composição em Tempo Real, Piero sugere a reprodução da ação onde Francisco emitiu por muito tempo um som agudo e intermitente com um cone de sinalização para amplificar a voz. O som lembrava o canto melancólico de uma baleia. Piero não sabia que Francisco é apaixonado por baleias. Por que estas cantam e se deslocam? Uma baleia mãe pode engolir o próprio filhote para protegê-lo dos predadores. Francisco e Piero não sabiam que Francisca usa o som das baleias para adormecer o seu filho. Francisco, Piero e Francisca não sabiam que Bárbara sonha respirar debaixo de água. O músico Norberto Lobo comentou sobre a baleia solitária denominada 52 Blue ou 52 Hertz. A frequência do som que emite é tão aguda que é incapaz de conviver com outro ser. Gal Costa é conhecida pelo seu alcance vocal altíssimo. Como criar tensão, equilibrar e desassossegar a relação entre nós, experimentando ruídos e sons? Investigámos 1OO formas de se deslocar em grupo, sempre para a frente, como animais que, por instinto, não andam para trás. Em sentido anti-horário, evocando práticas ritualísticas ancestrais, abrindo portais entre a vida e a morte. Em CANTAR, dispomos o público em arena, onde acontece a infinita deslocação. Deixar-se ver de todos os ângulos é um modo de materializar a vulnerabilidade que nos compõe. Nada a esconder, guardando apenas o segredo que mantém esta massa de “gente-bicho” unida e indo sempre. A utilização dos materiais cénicos acompanha as questões políticas e existenciais que nos movem. Numa espécie de “estética pobre” de reapropriação de materiais banais e a sua manipulação poética, utilizamos o que está disponível, criando novos imaginários que refletem questões sociais e humanas.

Direção, Criação e Performance FRANCISCO THIAGO CAVALCANTI
Cocriação e Performance PIERO RAMELLA, BÁRBARA CORDEIRO E FRANCISCA PINTO
Artista Convidada SARA PATERNERSI
Música e Performance YAW TEMBE
Desenho de Luz SANTIAGO TRICOT
Apoio FÓRUM DANÇA, CENTRO CULTURAL DA MALAPOSTA / MINUTOS REDONDOS / CÂMARA MUNICIPAL DE ODIVELAS, EUROPA CRIATIVA – GOETHE INSTITUTE, FUNDAÇÃO GULBENKIAN, ESTÚDIOS VICTOR CORDON, LIA RODRIGUES COMPANHIA DE DANÇAS, CIA INSTÁVEL, COMPANHIA ANAGOOR E LA CALDERA
Produção Executiva SINARA SUZIN
Coprodução ALKANTARA

UM CAVALO DISSE MAMÃE é um coletivo sediado em Lisboa e criado em 2O22 no contexto do Programa Avançado de Criação em Artes Performativas 5, promovido pelo Fórum Dança e sob curadoria de João Fiadeiro. O artista brasileiro Francisco Thiago Cavalcanti idealizou a peça “Também se matam cavalos”, e convidou os artistas Piero Ramella (IT), Bárbara Cordeiro (PT) e Francisca Pinto (PT) para uma parceria de cocriação. Assim, fundou-se este coletivo, que realizou uma segunda peça: “Quando eu morrer me enterrem na floresta”, com o apoio da Casa da Dança, do Fórum Dança e da Mostra Transborda, também com a inserção de novos artistas colaboradores. É um coletivo multidisciplinar, informal e transfronteiriço, que agora conta com a coprodução do Alkantara, e com o apoio de espaços e instituições como: Fórum Dança, Casa da Dança, Espaço L’obrador, La Caldera, Europa Criativa – Goethe Institut, entre outros. Em setembro de 2O23 o coletivo irá participar da Mostra Cartografias com a remontagem do trabalho “Um corpo foi achado” de 2O18, de autoria de Francisco Thiago Cavalcanti e Luana Bezerra; e em novembro de 2O24, no Alkantara Festival, acontecerá a estreia da terceira peça de grupo: CANTAR.

© Fotografia FRANCISCA PINTO

 

RESIDÊNCIA

2O23 | SET O9 a 17

LOCAL A DEFINIR

Residência artística não aberta ao público

ESTREIA : NOVEMBRO 2O24 | ALKANTARA FESTIVAL

[PERFORMANCE]

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