Atsumori Residência

ATSUMORI

Catarina Miranda

ATSUMORI é uma peça de dança para um quinteto e um palco luminoso. É intimamente inspirada na peça japonesa de teatro Noh de título homónimo, escrita no século XV, em que o fantasma de uma criança-guerreira, morta em combate, deambula pelo campo de batalha na esperança de encontrar vingança, resgatando finalmente a reconciliação com a sua nova realidade: a de ser um espectro.

O sistema altamente codificado do Noh e a dimensão arquetipal da sua estrutura dramatúrgica e performativa é operada aqui com um recorte formal, que torna a narrativa abstrata e inumana, numa estetização máxima do real. Essa conquista do tempo projetando o corpo para uma alteridade máxima é um ponto fundamental desta investigação.

Em cena vemos corpos de armaduras-máscara, que se organizam na determinação e ocupação de territórios, gerando identidades e códigos de presença comum, impelidos por pulsões individuais.

Estas são superfícies vivas, oráculos autopoiéticos, que dançam memórias musculares de manifestações de movimento e ritmo de um imaginário ficcional, espectralizado por construções sociais do passado e futuro.

Centrada na ideia de devir-belo, fantasmagórico e hipnagógico (estados de sonho), a criação coreográfica é proposta por Catarina Miranda em estreita colaboração com os bailarinos Cacá Otto Reuss, Joãozinho Costa, Lewis Seivright, Maria Antunes, Melanie Ferreira.

Os figurinos são inspirados nos “Garbage Gods” do icónico artista afro-futurista Rammellzee: armaduras de corpo inteiro feitas a partir de lixo, que o artista vestia para proteção do confronto com a realidade.

O espaço cénico tem como objeto central um piso de LEDs de cerca de 6mx6m. É em torno desta superfície que o público é disposto, tanto em palco como na plateia. Esta topografia lumínica e transparente enquadra as regras de ocupação de um sistema de gravitação e desequilíbrio onde os corpos que o atravessam são por ele iluminados.

O desenho de luz é assinado pela artista Letícia Sckrycky, cujo trabalho de vanguarda tem vindo a marcar a estética das peças anteriores de Catarina Miranda, nomeadamente “Dream is the Dreamer” (2O19) e “Cabraqimera” (2O21).

A composição sonora é inspirada em elementos estruturais do Noh, em termos de ritmo e timbre, bem como nas bandas sonoras dos filmes “Throne of Blood” de Masaru Satu, 1957 e “Under the Skin” de Mica Levi, 2O14, pelas suas dimensões psico-acústicas que aliam conceitos de intimidade e paisagens ficcionais.

Catarina Miranda tem vindo a desenvolver e apresentar projetos de criação maioritariamente para palco, que se caracterizam pela construção de topografias e corpos simultaneamente arquetipais e transumanos. Em 2O18, a artista integrou o curso Traditional Theatre Training no Kyoto Art Centre no Japão, sobre tradição gestual e musical do Teatro Noh.

Este projeto é produzido pela Materiais Diversos e Diagonal Animal e conta com o apoio do Teatro Municipal do Porto, do Centre Pompidou em Paris, do Festival Búlgaro One Dance Week, AGORA-Montpellier Danse, Espaço do Tempo, Teatro Académico de Coimbra e Instituto Camões.

Direção Artística e Coreografia CATARINA MIRANDA
Cocriação Coreográfica e Interpretação CACÁ OTTO REUSS, JOÃOZINHO COSTA, LEWIS SEIVRIGHT, MARIA ANTUNES, MELANIE FERREIRA
Desenho de Luz LETÍCIA SKRYCKY E JOANA MÁRIO
Conceção e Construção Cenográfica CATARINA MIRANDA, JOÃO BROJO E LETÍCIA SCKRYCKY
Apoio à Pesquisa Dramatúrgica ECE CANLI, FERNANDO OLIVEIRA E JONATHAN SALDANHA
Produção e Apoio à Conceção Cenográfica JOÃO BROJO
Produção MATERIAIS DIVERSOS E DIAGONAL ANIMAL
Coprodução CENTRE POMPIDOU / SPECTACLES VIVANT (PARIS/FR), TEATRO MUNICIPAL DO PORTO (PORTO/PT), ONE DANCE WEEK FESTIVAL (PLOVDIV/BLG), TEATRO AVEIRENSE (AVEIRO/PT), TEATRO MUNICIPAL SÃO LUÍS (LISBOA, PT), CHARLEROI-DANSE (BL)
Apoio à Residência AGORA (MONTPELLIER/FR), ESPAÇO DO TEMPO (MONTEMOR-O-NOVO/PT), TEATRO MUNICIPAL DO PORTO (PORTO/PT), CCN DE CAEN (FR), CENTRO CULTURAL DA MALAPOSTA / MINUTOS REDONDOS / CÂMARA MUNICIPAL DE ODIVELAS (ODIVELAS/PT), CRL – CIRCOLANDO (PORTO/PT), TEATRO VIRIATO (VISEU/PT)
Suporte INSTITUTO CAMÕES DE PARIS

A Materiais Diversos é uma estrutura apoiada pela República Portuguesa – Ministério da Cultura/DGArtes

CATARINA MIRANDA nasceu em Coimbra em 1982, vive e trabalha no Porto. Tem vindo a desenvolver e apresentar projetos de criação maioritariamente para palco, a partir de discursos ficcionais, cujas linguagens intercetam dança, voz, cenografia e luz, abordando o corpo como um veículo de transformação hipnagógica e de consciência do presente. Concluiu o mestrado EXERCE no ICI-CCN (Montpellier/FR) e a licenciatura em Artes Visuais pela Faculdade de Belas Artes do Porto; estudou Teatro NOH, no Kyoto Art Center, Japão. Do seu percurso destacam-se as peças de dança “Cabraqimera”, “Dream is the Dreamer”, “Mazezam”, “Boca Muralha” e “Reiposto Reimorto”, apresentadas no Centre Georges Pompidou/Paris, Palais de Tokyo/Paris, Fundação Calouste Gulbenkian/Lisboa, Fundação de Serralves/Porto, Teatro Municipal Rivoli/Porto, DanceBox/Kobe Japão e nos Festivais DDD/Porto, Pays de Danses/Liège Bélgica, Short Theatre/Roma, Africologne/Colónia e Mindelact/Cabo Verde. Apresentou a exposição “POROMECHANICS” no Centre Georges Pompidou/Paris, nos Maus Hábitos/9Oº aniversário Teatro Rivoli (Porto/PT), no Festival Walk&Talk (Açores/PT) e no Teatro São Luiz (Lisboa/PT); bem como as instalações visuais “DIAGONAL ANIMAL”/2O19 no Festival Fabrik (Fall River/EUA); e “MOUNTAIN MOUTH” /2O14 no Dance Box e no Maizuru RB (Kobe/Maizuru/JP). Em 2O16, a RTP lançou o Documentário “PORTUGAL QUE DANÇA”, cujo um dos episódios é dedicado à peça de dança “Boca Muralha”. É cofundadora do coletivo de música COBRACORAL, apresentado no CCB/Lisboa, nos Jardins Efémeros/Viseu e no Tremor2O23. [www.catarinaamiranda.com]

CACÁ OTTO REUSS realizou a sua primeira formação artística na Escola de Dança Ginasiano. Licenciada na Faculdade de Dança Angel Vianna, fundou em 2O18, a Companhia Motirô no Rio de Janeiro, onde dirigiu o seu primeiro trabalho artístico. Trabalhou com os coreógrafos Ana Figueira, Angel Vianna, Ana Vitória, Marco da Silva Ferreira e Catarina Miranda. De volta a Portugal, em 2O21, desenvolveu uma prática de movimentação pélvica “Chama a Pélvis” e criou a sua terceira peça de dança “Pestes”.

JOÃOZINHO DA COSTA é um ator, bailarino e encenador, nascido em 1991 em Cacheu, Guiné-Bissau. Vive e trabalha em Lisboa, Portugal. Frequentou o curso de arquitetura na Faculdade de Arquitetura de Lisboa. Colaborou com o dramaturgo português Rui Catalão: “E Agora Nós!”, “Assembleia”, “Jornalismo, Amadorismo, Hipnotismo”, “Último Slow”. Realizou também o solo “A Rapariga Mandjako”, inspirado na sua biografia. É intérprete e bailarino dos espetáculos “Mal – Embriaguez Divina” de Marlene Monteiro Freitas, “Anda Diana” de Diana Niepce e “Interior” de Tiago Vieira. Em 2O2O, escreveu e dirigiu o seu primeiro espetáculo: “Duas Peças de Xadrez”. Trabalhou com o ator/diretor Welket Bungué na sua criação “Não, Somos Daqui”.

LEWIS SEIVWRIGHT é formado, com distinção, pela Rambert School of Ballet and Contemporary Dance (Londres, 2O13) e trabalhou para a companhia de dança TanzMainz (Alemanha) entre 2O13 e 2O16. Desde 2O16, como bailarino freelancer, tem trabalhado com Club Guy and Roni (Holanda), Lilianne Brakema (Holanda), Jonas&Lander (Portugal), Catarina Miranda (Portugal), Sofia Dias & Vítor Roriz (Portugal), Tiago Vieira (Portugal) e Mala Voadora (Portugal). Tem sido regularmente convidado para lecionar em diferentes locais, quer no formato de workshops de dança/movimento (Aurora Ballet School, Japão), quer na formação em dança contemporânea (Estúdios Victor Córdon e FOR Dance Theatre – Companhia Olga Roriz, Portugal).

MARIA ANTUNES é licenciada em Dança pela Escola Superior de Dança de Lisboa (2O13-2O16). Frequentou os cursos FOR modular da Cia Olga Roriz (2O17/18) e Gestão/Produção das Artes do Espetáculo – CGPAE#28 (2O21). Desde 2OO8, estuda Danças Urbanas e Clubbing, as quais têm sido a base do seu trabalho atual. É intérprete em “Carcaça” (2O22) de Marco da Silva Ferreira, e encontra-se atualmente em digressão. Interpretou “Brother” de Marco da Silva Ferreira; “Periférico” de Piny/VHILS (BoCa Bienal); “.G Rito” de Piny; “Omiri” com coreografia de Filipa Peraltinha; e “Muloma” de Kwenda Lima. Enquanto criadora, criou/interpretou os solos “Dendro” (2O22), “Redor” (2O19), tendo apresentado o seu trabalho em Alemanha, França, Inglaterra, Portugal e Suécia. Em 2O22 criou “Flora vegetal, não vegetativo” para o 3ºano da Licenciatura em Dança/ESD. É professora de Dança Contemporânea e House desde 2O15.

MÉLANIE FERREIRA nasceu na Suíça em 1996. Iniciou os seus estudos em dança em Viseu, na Escola de Dança do Lugar Presente, onde frequentou o curso vocacional. Fez a licenciatura e mestrado na Escola Superior de Dança. Integrou vários projetos com diferentes coreógrafos, nomeadamente Madalena Victorino, Francisco Pedro, Diana Niepce, Ana Borralho e João Galante, André Uerba, Lucia Nacht, Sérgio Penna, Daniel Matos, São Castro, Clara Andermatt e Joao Lucas, Tiago Vieira, Marco da Silva Ferreira, Jorge Jácome, Maurícia Neves. Em 2O21 estreia a sua primeira peça, sendo a criadora e intérprete da performance/fotografia “Deitamos flores pelo lado de dentro”, em colaboração com André Alves. Em 2O23 colabora como intérprete nas peças “Carcaça”, de Marco da Silva Ferreira, “Coreografia para uma santificação” e “Do Êxtase”, ambas de Tiago Vieira.


© Fotografia CATARINA MIRANDA

 

RESIDÊNCIA

2O23 | DEZ 12 a 16

LOCAL A DEFINIR

Residência artística não aberta ao público

[DANÇA]

ESTREIA : Abril/ Maio 2O24 | Festival DDD | Teatro do Campo Alegre, Porto

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