Vigília Rodolfo Freitas

VIGÍLIA
(OU A POSSIBILIDADE DE DESPERTAR)

Rodolfo Freitas

Aquelas antes entregues ao sacrifício regressam agora almas restituídas. Para trás fica uma mãe saudosa. Partimos da lenda pombalense do mouro Al Pal Omar para falar sobre a libertação dos e das habitantes em universos femininos, depois de uma vida em modo alerta aprendem a caminhar sob trilhos armadilhados. Queremos manifestar o in-between que há dentro: sementes por germinar, cristais abafados, memórias enterradas no jardim. Trabalhamos na harmonia das forças mais oponentes que convergem num só feto. Para deixarmos partir as disputas antigas usamos das nossas heranças culturais e místicas, das receitas das avós para queimar os efeitos do olhar alheio, a violência enraizada – recusamos a ideia de identidade como uma imutabilidade e gradualmente abandonamos a disputa na arena do masculino e feminino. Almejamos expurgar, reunir, ascender e reaprender a ver o próprio e o outro corpo como ferramentas passíveis de amor.

Vigília” é uma análise cuidadosa dos estilhaços que ficam, do inconformismo das novas evas, que limpam as vozes assombrantes da morte que ecoam e ficam à espreita.

Projeto RODOLFO FREITAS
Criação e Interpretação LÍLIA LOPES E RODOLFO FREITAS
Música e Sonoplastia SALOMÉ
Apoio Técnico PEDRO FREITAS
Apoio Técnico e Audiovisual YAĞIZ AKIN
Apoios à Residência CASA VARELA, CENTRO CULTURAL DA MALAPOSTA, MINUTOS REDONDOS, CÂMARA MUNICIPAL DE ODIVELAS, ESPAÇO LX JOVEM, PRODUÇÕES REAL PELÁGIO/TEATRO DA VOZ, ÚTERO
Apoios CÂMARA MUNICIPAL DE POMBAL
Agradecimentos CÉLIA OLIVEIRA, FILIPE EUSÉBIO, JOÃO FARIA, JOAQUIM EUSÉBIO, HELENA FREITAS, PEDRO FREITAS, RODOLFO JACA, ISABEL MILHANAS MACHADO, COLETIVO CASA MÃE, HUGO SIVAS, LUÍS PUTO, PEDRO RIBEIRO – ALÉM (HAIRDESIGN) E SOFIA AFONSO


Queremos analisar a memória dos nossos corpos, o que germina dentro do corpo social e dentro do pessoal. Os protagonistas são uma representação, “desculpa” ou o pretexto para falarmos do que temos no peito, é um instrumento transformado em personagem, mutável, construído e reconstruído com o desenrolar da criação. Queremos ocupar, redescobrir, voltar às nossas cidades, aos nossos lugares; observar de novo – qual é o lugar que ocupamos neste momento, ao regressar a casa? Parece haver uma necessidade acrescida, ao habitante do universo feminino ou feminilizado, de romper com a vida anteriormente arquitetada ou simplesmente desaparecer, como ato de coragem para a libertação. “Vigília” é a emancipação do corpo livre, que trouxe o termo “bruxas” como alvo a abater, uma vez que as anciãs parecem não ser benéficas ao sistema instalado. Quando analisamos a História da Sexualidade, Foucault torna clara a ideia de que cada sociedade que se fixou, apropriou e remodelou as dinâmicas já existentes anteriormente, muitas vezes dando novos nomes e contornos a movimentos sociais já existentes. Podemos observá-lo quando analisamos a própria definição de família, sexualidade e até desejo, muitas vezes como instrumentos moralmente e juridicamente definidos e geridos pelo Estado. Redefinimos então estes lugares e questionamos as intocáveis lendas e mitologias, vendo-as agora apenas como histórias. Histórias contadas e difundidas assim como tantas outras: mas estas incutidas, impressas, institucionalizadas, e agora esquecidas, congeladas junto das ruínas do castelo. Hoje em dia redefinimos o amor e socialmente temos uma outra perspetiva sobre estes factos? Quão romancistas e eternos saudosistas conseguimos ser? Quão intocáveis são todas estas histórias?

“Me nutri daquelas que tenho muito amor, que são muito amor, que vivem pelo amor, pela fé e que não negociam e não se dobram perante nenhum senhor” (Ventura Profana, 2O2O)

Pretende-se falar sobre a experiência de recuperação de eventos traumáticos e dos e para os sobreviventes de abuso ou violência relacional íntima: normalmente representadas como mulheres e “princesas” nas lendas que os nossos avós nos contavam. Explora-se no universo português, a herança deixada pelas gerações anteriores, debruçando-nos sobre os diferentes significados do conceito de “vigília”: recolher é entregarmo-nos a uma busca incessante de novas influências, psicologicamente pode ser estar vigilante, culturalmente remete-nos para noites de homenagem e tributo, como aquelas em que caminhávamos de vela na mão e estatueta ao alto. Como interveio Anohni (Antony & The Johnsons), ao vivo no teatro Carré “eu sei que isto vai parecer tonto, mas por um momento eu fiquei com muito medo de pedras (…) será que eu reencarnei das pedras ou das árvores?”.

RODOLFO FREITAS nasceu em 1993 em Pombal. É licenciado em Comunicação Social pela Escola Superior de Educação de Viseu (2O14). Mestre em Teatro e Artes Performativas, pela Escola Superior de Teatro e Cinema (2O18). Escreveu sobre teatro e cinema para a publicação Rua de Baixo. Participou na performance “5O. Orlando. Ouve.” no Festival Queer Lisboa (2O16). Em 2O18 produziu e apresentou, no âmbito do ciclo trimestral do coletivo CASA MÃE, na Galeria Pequena Notável em Lisboa, a performance e instalação “Resume viewing / retomar a visualização”, a peça “Terra” e participou nas leituras encenadas de Maior Que. Integrou a equipa criativa da associação HAL Sinop, na Turquia, onde desenvolveu a vídeo-instalação “Can you feel the ghosts inside you?” e produziu o teaser da 3ª edição do Sinopale Festival de Cinema Internacional. Com o coletivo Câmara, onde tem também a seu cargo a produção audiovisual e de comunicação, integrou o elenco do espetáculo “A Câmara Ama-te” na Rua das Gaivotas6 e no Festival Artes à Rua ‘18. Apresentou “Em Linha – Uma peça para matadouros” no Festival Interferências, com residência na Companhia Olga Roriz e na Chamada para Novas Criações Artes à Rua ‘19. Como resultado destas experiências, produziu a instalação “Uma vídeo-exposição para matadouros”. Editou as vídeo-leituras do ciclo online “Está Tudo Bem” (CASA MÃE). Em 2O22 publica poemas na antologia poética “Entrar sem bater” (Editora Labirinto) e apresenta o solo “Declaração de amor”, de Isabel Milhanas Machado, no Centro Cultural da Malaposta.

LÍLIA LOPES nasceu em 1991 no Porto. Licenciou-se em Interpretação na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, em 2O13, e concluiu, em 2O21, o mestrado em Encenação na Escola Superior de Teatro e Cinema. Estudou em regime de intercâmbio em duas instituições: na Escola de Comunicações e Arte / Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (Brasil), em 2O18; e na University College of Falmouth (Inglaterra) em 2O12/13. Ao longo do seu percurso teatral contactou com António Durães, Júnior Sampaio, Nuno M. Cardoso, Tiago Correia, João Mota, Bruno Bravo, Martim Pedroso, Carlos J. Pessoa, Jorge Silva Melo e Isabel Setti. Encenou e interpretou “Fala-me Como a Chuva e Deixa-me Ouvir” (acolhimento Teatro da Garagem) e encenou “A Geada Matou os Narcisos” (acolhimento O’Culto da Ajuda), ambos em 2O17. Desde 2O18 até ao presente, trabalhou com os criadores Tiago de Faria (Manga Theatre), Simão Luís, Rafael Luís Fragoso (Coletivo Provisório), e a dupla João Gaspar e Rodolfo Major. No audiovisual, em cinema ou publicidade, trabalhou com os realizadores Pedro Varela, Leonel Vieira, Patrícia Sequeira, José Alberto Pinheiro, Manuel Mozos, José Pedro Lopes, Pedro Santasmarinas e Halder Gomes.


©Fotografia RODOLFO FREITAS

PERFORMANCE

2O22 | MAR 1O a 19

SEX e SÁB – 21HOO
DOM – 16H3O

CAFÉ-TEATRO

1O€ | DESCONTOS APLICÁVEIS

4O MIN

M/16

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