METEOROLOGIA TEMPO PARA MATAR

METEOROLOGIA:
TEMPO PARA MATAR

Vitória Teles Grilo

Pode ser que um dragão venha trazer à superfície as entranhas de corpos desfeitos. O daquela mulher, por exemplo, que leva pedaços do corpo para cena, um a um. Como nos sonhos, em que qualquer pedaço de carne das figuras e formas que aparecem fica dividido entre o ser humano e o animal, ambos gravitando entre um polo que é a vida e outro que é a morte, como dois espaços de imaginação e criação. Nesse intervalo desdobram-se muitas possibilidades de articulação de membros físicos numa espécie de tectriz. 

Este dragão, um animal que vive tão banalmente nos sonhos e fantasias, chega sob a forma de uma armadura que a figura central evoca na zona do seu subconsciente e transfere para o contexto real e âmbito social todo o seu capital de mobilização coletiva e de libertação de estereótipos. O estigma do que poderá ser um corpo feminino e suas polaridades e subjugações sociais vem potenciado na textura da pele daquele lugar antropozoomórfico. 

Esta é uma peça inicialmente criada a partir de material autobiográfico sobre a capacidade de desdobramento da figura humana perante um contexto particular de crise. Nasceu da memória de vários sonhos repetidos onde a figura animal, como ferramenta da transformação e abrigo, teve um papel fundamental na exorcização do imaginário ou da realidade neles vivida. A clareza do que se passava no subconsciente permitiu-me transpor para a realidade concreta algumas descobertas exploradas através dos sonhos. Agora acordada, estabelece-se uma relação entre os efeitos de uma crise acesa (que sob o ponto de vista sociológico e filosófico se revela histórica) – de valores éticos e culturais – que atravessamos e as escolhas e direções de uma figura que emerge e se torna central na peça.  Paralelamente ao seu percurso, está a tentativa desta figura feminina se desintegrar de um lugar-comum de género e suas questões adjacentes, para flutuar entre conceitos e ideias como a operatividade de um corpo que deambula entre o masculino e o feminino e a ação autonomizada pela sobrevivência. É disto que esta figura se quer perder. Será então a sua desfiguração (concetual) que a salva das trevas? Neste imaginário criado, o caminho da performance surge como ponto de rutura estrutural do indivíduo pela via do empoderamento precário do corpo. 

Direção artística, Criação e Interpretação VITÓRIA TELES GRILO
Texto Original VITÓRIA TELES GRILO
Assistência Artística NUNO LUCAS
Direção Técnica/Desenho de Luz JOÃO TEIXEIRA
Sonoplastia/Música AURÉLIEN LINO
Figurinos SARA ZITA CORREIA
Vídeo MATILDE CALADO

Fotografia ALÍPIO PADILHA
Teaser BIZUKA BARROS
Produção Executiva ANA LOBATO
Apoio à Produção e Administração REDE MO.RE ASSOCIAÇÃO CULTURAL
Apoio FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
Apoio à Criação CENTRO DE TEATRO DE CABECEIRAS DE BASTO (NO ÂMBITO DO PROGRAMA DA FICHATRIPLA – PRODUÇÃO D’FUSÃO), OPART | ESTÚDIOS VICTOR CÓRDON, DeVIR/CAPa, CENTRO CULTURAL MALAPOSTA, PÓLO CULTURAL GAIVOTAS, COMPANHIA OLGA RORIZ E FORUM DANÇA
Agradecimentos ANA LOBATO, MIGUEL PEREIRA, FRANCISCO CAMACHO, EIRA, EQUIPA E PÚBLICO DO ENCONTRO BIENAL DE ARTES PERFORMATIVAS (RE)UNION 2020, HELENA DAWIN, LUÍS ODRIOZOLA, CATARINA FEIJÃO, JOANA MANACAS E CAMILLA MORELLO

VITÓRIA TELES GRILO (Chaves, 1985) é performer e coreógrafa. Doutoranda no curso Artes Performativas, da Imagem em Movimento pela Universidade de Lisboa e mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação pelo ISCTE. Frequentou o curso CDC (Dança na Comunidade), o PEPCC (Programa de Estudo e Criação Coreográfica) e o PEPCC-C (coletivo) no Fórum Dança e quatro edições do PED (Programa de Estudo em Dança) na Eira, orientado por Francisco Camacho. Frequentou ainda na Companhia da Olga Roriz, em parceria com a Culturgest, um curso teórico-prático sobre o coreógrafo e investigador Steve Paxton. Enquanto artista e criadora, tem vindo a desenvolver trabalhos desde 2016 com coletivos multidisciplinares desde o cinema à música jazz e coreógrafos das artes performativas. Das suas criações destaca “GPS: direções para nos perdermos” (2016); “Now-Here-Land” (2017); “Contratempo” (2018) e ”Meteorologia: Tempo Para Matar”(2020). Cruzou-se e trabalhou com artistas como Vera Mantero, João Fiadeiro, Loic Touzé, La Ribot, Mark Thompkins, Lia Rodrigues, Miguel Pereira, Vânia Rovisco, André Teodósio, entre outros. Integrou projetos pedagógicos artísticos para o 1º ciclo em colégios e escolas públicas em Portugal. No Rio de Janeiro colaborou na Escola Livre Dança da Maré da coreógrafa Lia Rodrigues. É um dos membros fundadores da REDE MO.RE associação cultural, através da qual integrou a equipa editorial de publicação “My background is now: memórias e processos de uma formação em dança contemporânea”. Foi ainda coordenadora de uma residência temática internacional (Re)union 2021 n’O Rumo do Fumo, Lisboa.  

©Fotografia ALÍPIO PADILHA

PERFORMANCE

ESTREIA

2O22 | JUN 25 e 26

SÁB – 22HOO
DOM – 18HOO

SALA EXPERIMENTAL

1O€ | DESCONTOS APLICÁVEIS

45 MIN

M/12

PARTILHAR