ENSAIO VISUAL THEIA
[FESTIVAL THEIA]
Existem áreas de trabalho onde a representatividade da mulher é bastante menor do que a os homens. A música, e em particular a música Jazz, é uma dessas áreas. Foi ao procurar no seu arquivo as imagens dos concertos de projetos com leader e/ou instrumentista feminina, que Catarina Loura se apercebeu da discrepância. E foi com base neste desiquilíbrio, e com o objetivo de refletir profundamente sobre esta problemática, que resolveu realizar este “Ensaio Visual Theia”, que utilizará a linguagem visual como potenciador desta reflexão. E porquê a linguagem visual? Porque é uma linguagem que, com o crescimento exacerbado da tecnologia (telemóveis, tablets, televisão), está muito próxima de nós.
O “Ensaio Visual Theia” terá 3 componentes: a Exposição Fotográfica, a Instalação e a Performance. A arte fotográfica fará a apresentação do problema, a instalação proporá ao espectador uma nova maneira de olhar para ver, e a performance apresentará uma reflexão sobre a mudança que a mulher terá de sofrer para conseguir ser ela própria.
Na parte fotográfica será feita uma abordagem abstrata, fugindo aos cânones visuais que retratam a mulher no geral, e a mulher no Jazz, como um objeto de criação de desejo. John Berger (1972, “Modos de Ver”, p. 7) resume isso brilhantemente ao referenciar os corpos maioritariamente femininos, retratados na pintura, como corpos adestrados para colherem o olhar. Berger acrescenta ainda, que estes corpos femininos, para além de terem a função de provocar desejo, provocam esse desejo em quem exercita o controlo, nesse mesmo corpo feminino. Nos dias de hoje, não respiramos sem imagens a invadirem o nosso olhar em tudo o que fazemos, o nosso corpo é moldado por essas imagens, e consequentemente o nosso interior. É importante refletirmos sobre esta mudança.
Esta característica, de corpos femininos a esforçarem-se por serem olhados criando desejo, aparece-nos carimbada nas paredes dos principais teatros e salas de espetáculos, quer em formas de gesso, quadros pendurados nas entradas, ou ainda murais pintados nos tetos. Esta é a linguagem visual de grande parte da arte pré contemporânea e em muitos casos, na arte de hoje. A publicidade, que corrói a nossa imaginação a todos os minutos, acaba por utilizar o corpo feminino nesse trigger de potenciar o desejo em quem vê, e espelha-se na construção da identidade da nossa sociedade, nomeadamente na identidade feminina.
Um dos problemas que advém deste facto, é que esta tentativa de transformar a mulher num objeto de desejo, acaba por confundir o papel que a sociedade dá à mulher, o de provocar desejo, com o ser feminino. E cada mulher tem o direito de escolher a sua feminilidade, sem que esta seja confundida com este papel que a sociedade incumbe na mulher, provocar desejo. A feminilidade não pode ser transformada em necessidade de provocar desejo e muito menos formatada pela sociedade. É esta reflexão abordada na exposição fotográfica.
Na instalação Theia Catarina Loura propõe a cada criadora do Festival Theia, a partilha de objetos que lhes provocaram ou provocam emoções, emoções essas, que tenham influenciado o seu percurso artístico, enquanto criadoras de música Jazz. Com a instalação finalizada, o espectador poderá aproximar-se da energia criadora de cada artista, sem ser pelos cânones visuais descritos anteriormente. É dado ao espectador, a possibilidade de olhar, para ver noutra perspetiva.
EXPOSIÇÃO
Conceção e Criação das Imagens CATARINA LOURA
Folha de Sala CATARINA LOURA
Pós-Produção e Impressão ANTÓNIO BETTENCOURT
INSTALAÇÃO
Conceção e Criação CATARINA LOURA
Folha de Sala CATARINA LOURA
CATARINA LOURA iniciou os seus estudos artísticos na área da música enquanto cantora, no Instituto Gregoriano de Lisboa e posteriormente na Academia de Amadores de Música. Devido a um problema de saúde abandonou a carreira profissional de cantora e dedicou-se ao estudo da fotografia no Atelier de Lisboa – Escola de Artes Visuais, com os professores Ana Janeiro, António Júlio Duarte, Bruno Pelletier Sequeira, Daniel Blaufuks, Jem Southam, José Luís Neto e Sandra Vieira Jürgens. Desde 2009 tem vindo a realizar diversas exposições coletivas e individuais, onde através da fotografia, instalação e performance apresenta o seu trabalho artístico. Encontra-se a terminar o mestrado em Cinema e Fotografia de Filosofia da Estética, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde o tema é a Memória, Auto-representação e Identidade no contexto da fotografia artística.
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©Fotografia CATARINA LOURA