PUTTO BRUTO
Companhia de Peso
O Querubim representa-se pela missão de adorar a Deus, nada mais. Contudo, nesta peça os papéis invertem-se e os Querubins serão os adorados pela sociedade. A peça representa a criação e adoração de ídolos do século em que vivemos, ignorando a Deus, de acordo com os desejos e necessidades mais íntimas da sociedade, assumindo a forma de Querubins como homens gordos, imponentes, que raramente seriam adorados.
Nesta peça coreográfica, os papéis invertem-se quebrando o estereótipo e mostrando ao público a possibilidade de adorar aquilo que não é adorado, de normalizar uma forma física que não é considerada aprazível ao olhar e dar-lhe uma sexualidade que não é expectável em anjos. Ao espelhar uma masculinidade tóxica, estes anjos Querubins opõem-se ao seu próprio estereótipo de sensibilidade e abandonam o trono de Deus para criarem os seus próprios tronos. Rodeados pela sua personalidade, por tudo o que os faz humanos: inseguranças, medos, amores, desejos, alegrias, os Querubins erguem-se como novos ídolos onde permanece toda a imperfeição humana.
A peça pretende criar a cada momento algo que consciencialize o público em relação ao estereótipo: o que é, para que serve, o que desencadeia, o que faz e não faz sentido? O estereótipo como mecanismo de defesa do nosso próprio cérebro surge no intuito de proteger a sociedade daquilo que é diferente, do que é estranho. Os Querubins criam um diálogo onde não há necessidade de erguer nenhuma defesa, libertando o público e sugerindo uma narrativa que o transporta para um ponto de vista totalmente diferente do estereótipo.
A sociedade formata-nos para um estereótipo do que é belo, do que é um bom estilo de vida, do que é um bom físico, e é por base neste conceito que os Querubins pretendem desconstruir a perceção da sociedade, desmistificando a ideia de que ninguém está errado, de que os estilos de vida e o físico não se qualificam como melhores ou piores, bons ou maus, mas pelas simples características de serem diferentes.
Criação GONÇALO PINELA
Interpretação GONÇALO PINELA, TIAGO FLOR, CAIO CALY, RICARDO MELLADO, LAURA GROZ E ANA CLÁUDIA CARVALHO
Cenografia e Figurinos GONÇALO PINELA E TIAGO FLOR
Desenho de luz GONÇALO PINELA E TIAGO FLOR
Apoio Logístico NUNO PAIXÃO E SARA LUÍS
Companhia de Peso
A ideia para esta peça surgiu com a necessidade de criar algo com impacto, fazer um trabalho sobre a sociedade e para a sociedade se questionar sobre alguns dos seus preconceitos, neste caso o estereótipo de beleza, a noção do corpo que é belo e o que não é belo e porquê? Desde o início que a ideia para um elenco que não correspondesse ao padrão esperado era necessário para a própria presença do mesmo ser uma declaração de revolta e de protesto. A partir daí, cresceu uma vontade de que esta peça fosse mais do que apenas esta apresentação e criar um projeto onde todos os corpos e todas as formas são normalizadas.
Gonçalo Pinela, 28 anos, natural de Alcácer do Sal. Tem o curso profissional de Animador Sociocultural; o percurso nas artes iniciou-se com o Teatro no Projeto Cegonha, conduzido por Leonor Alcácer desde os seus 15 anos. Assim, durante 8 anos e aliado ao teatro, Gonçalo dançou sempre com amigos e criou pequenas peças amadoras que apresentava localmente. Tendo muito pouca formação em dança, inscreveu-se no programa televisivo “Achas Que Sabes Dançar?”. Dessa experiência surgiu uma vontade de continuar a ter formação como bailarino, ingressando no Curso de Dança da Escola Superior de Dança. Surge assim a oportunidade de trabalhar com a criadora Madalena Vitorino, Companhia Limitada, como bailarino nas peças “Estação Terminal” e “ALTEOBU”, ambos trabalhos de inclusão social com minorias étnicas, sociais, sem abrigo e comunidades de refugiados. Ao longo deste percurso realizou ainda diversos trabalhos na área comercial e revista, tendo frequentado também várias residências artísticas, nomeadamente com o bailarino e coreógrafo Marco da Silva Ferreira, Clara Andermatt e Victor Hugo Pontes. Ainda muito importante para a sua formação como bailarino foi a participação na 1ª Edição do Summer Lab da Companhia Paulo Ribeiro e do Teatro Viriato em Viseu. Associado ao percurso de bailarino surge ainda a oportunidade de ter participado três anos consecutivos como Assistente de Produção no Festival TODOS – Caminhada de Culturas.
Ricardo Huguera Mellado, natural do Chile, é formado em Jornalismo e mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa. Atualmente é estudante do Doutoramento em Estudos de Género resultante do consórcio entre a Universidade de Lisboa e a Universidade Nova de Lisboa. O nome do seu projeto de investigação é: “Os traidores do patriarcado: homens que lutam pela igualdade de género em Portugal”. Ativista pela igualdade de género, no ano 2016 participou na conformação de Hombres Tejedores no Chile, um coletivo que utiliza o ato de tricotar nos espaços públicos para refletir sobre o peso dos estereótipos de género nas relações sociais e a importância de dar visibilidade a masculinidades alternativas ao modelo hegemónico. O projeto foi replicado na Argentina, na Colômbia e no México. É cofundador da Men Talks, uma associação na cidade de Lisboa que consiste em rodas de conversa para homens com o objetivo de desconstruir os códigos da masculinidade tradicional e abrir espaços a novas referências de masculinidades no país.
Caio Caly, é brasileiro nascido e criado em São Paulo e formado em Design Gráfico e de Produto pela Universidade de São Paulo. Foi transferido para Lisboa em 2019, onde vive atualmente. Após transitar por design gráfico e editorial, trabalha há 5 anos como consultor de experiência do utilizador em projetos de inovação tecnológica.
Ana Cláudia Carvalho, iniciou o seu percurso na dança aos 8 anos na Escola Péantepé Dança, em Moscavide, onde teve contacto com a técnica de Dança Clássica e, aos 10 anos, com a técnica de Dança Contemporânea. Participou enquanto intérprete, coreógrafa e ensaiadora em espetáculos do grupo Péantepé Dança. Em 2015 ingressa na Escola Superior de Dança, em Lisboa, onde alargou o seu conhecimento e formação na dança, tendo tido contacto com alguns profissionais da área. Durante o último ano de licenciatura, participou no programa Erasmus, na Escuela Superior de Arte Dramática de Múrcia, em Espanha. Participou no espetáculo “Estação Terminal”, de Madalena Vitorino e Pedro Salvador. Encontra-se a dar aulas de Dança Criativa, Técnica Clássica e Técnica Contemporânea.
Tiago Flor, nasceu em Santarém em 1981. Terminou o ensino secundário na vertente profissional de Animação Sociocultural em 2010, no CAP – Centro de Formação de Almeirim. Tendo trabalhado inicialmente na área hoteleira, iniciou a sua atividade profissional na área cultural em 2005 no Centro Cultural Município do Cartaxo, onde trabalhou na área de Frente de Casa e Assistência de Direção e Produção até 2008, altura em que voltou a trabalhar na área de Hotelaria. Paralelamente, em 2006/2007, fez uma formação de Frente de Casa e de Marketing Cultural pela SETEPÉS Projetos Artístico-culturais Lda. do Porto. Frequentou durante os anos 2006, 2007 e 2008 o Curso de Expressão Dramática, lecionado pelo formador e mestre d’O Método de Lee Starsberg, o ator Bruno Schiappa. Atualmente, mantém a sua atividade profissional na área hoteleira não deixando de participar em algumas atividades culturais e de expressão artística, nomeadamente como intérprete na Companhia de Peso.