O NOME MAIS BELO DO MEDO
de Sofia Ó
Encontramo-nos para acompanhar uma dança que se faz para resistir à paralisia do medo, com o desejo de quem se encontra para ouvir um disco pela primeira vez, enquanto sirenes e vozes na rádio querem silenciar o sonho. A mulher que dança nunca está só. Dança o encontro que acontece ali, dança com as memórias e deslocamentos que a constituem, dança com a imagem dela mesma num antes. Uma mulher que foi futuro, gerando uma vida porvir num mundo em ruínas, e uma mulher que é. “Uma dança para resistir à paralisia do medo. Este é um solo de dança que tem como chão a certeza de que não há dança a sós. Realizado entre Portugal e Brasil, incorpora os deslocamentos e comunicações intercontinentais. Pergunta-se sobre a atualização corporificada de memórias; as possibilidades de comunicação entre diversos, próximos e distantes; as danças que brotam da experiência de migrar, de se deslocar entre territórios e temporalidades. Parte da insistência no prazer de deixar aparecer movimento em dança diante da evidência das forças de poder que drenam a energia dos corpos viventes conduzindo à incapacidade de pensar-agir e à submissão ao medo (tanto na América Latina como na Europa)”. Foi esta a sinopse do projeto escrita em finais de 2019 e apresentada à Gulbenkian em inícios de 2020, recebendo o Apoio a Novos Criadores cujo resultado foi anunciado poucos dias após o reconhecimento mundial da pandemia. Este projeto, como o mundo, foi radicalmente afetado pela situação sociopolítica e psicosanitária; ao mesmo tempo, a sua atualidade parece ter antecipado à própria perceção. Sem dúvida, este é um trabalho sobre tempos e espaços: as suas diversas possibilidades e a coexistência entre tais diferenças. Ao lado da presença mais presente da morte, emergiu a pulsação mais pulsante da vida: a gestação de um bebé. E o medo abriu-se numa miríade de nomes, uns belos, outros tenebrosos. Nunca quisemos fazer um trabalho sobre gestar e parir, mas estas experiências fizeram-se inexoráveis nos rumos que o trabalho tomou. Trabalhámos a distância, em encontros virtuais rotineiros para prática corporal e criação. E trabalhámos em presença imersiva e intensiva, em residência realizada em São Paulo, em dezembro de 2020, incluindo a presença de André Cortez, criador da cenografia, e Raul Misturada, criador da banda sonora, além de Sofia Ó e da diretora Duda Maia. Nesta ocasião, o realizador Rafael Frydman registrou a primeira parte das imagens que comporão o espetáculo, projetadas sobre os volumes plásticos que compõem o cenário-instalação. Em setembro de 2021, outras imagens foram realizadas, desta vez por Nadja Kouchi. (Dois outros encontros presenciais, em São Paulo e no Rio de Janeiro, ocorreram em outubro e novembro de 2021, além de um encontro em Lisboa, já em dezembro de 2021). O espaço cénico convida o público a percorrê-lo ou instalar-se, sem que haja um lado de fora de onde uma plateia assiste. Compartilhamos um ambiente que existe enquanto se constrói o encontro, tal qual uma sala se transforma quando amigos se reúnem para escutar um disco, longe de streamings e fones de ouvido.
Conceção e Performance SOFIA Ó
Dramaturgia DUDA MAIA
Banda Sonora RAUL MISTURADA
Assistência à Criação SOFIA NEUPARTH
Cenografia e Figurino ANDRÉ CORTEZ
Imagens RAFAEL BLANCO FRYDMAN E NADJA KOUCHI
Produção CRISTINA VILHENA – C.E.M – CENTRO EM MOVIMENTO
Apoio FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN, C.E.M – CENTRO EM MOVIMENTO, CIA. VAGALUM TUM TUM
Realização COBOGÓ ATELIÊ DE ARTE
Sofia Ó é artista e investigadora de dança, interessada no corpo como experiência de encontro e espaço de invenção de liberdades. O seu trabalho articula as formações em dança (com destaque para o c.e.m – centro em movimento (PT); o Estúdio Oito Nova Dança e o Estúdio de Ballet Cisne Negro (BR)) e em Ciências Sociais (é bacharel e mestre pela PUC-SP). As suas criações tomam forma em ações performativas – como a vídeo dança “risco” (2017) –, de escrita – como o livro “Teatro de Dança Galpão: experimentações em dança e práticas de resistência durante a ditadura civil-militar no Brasil” (ed. Prismas, 2016) –, ou passeiam entre corpo e palavra – como em “Escavação” (2018.), instalação em dança que se desdobra também na edição de um caderno de documentação. Em 2018, recebeu a Bolsa Jovem Criador, do Centro Nacional de Cultura (PT), para a criação da instalação em dança Escavação, no Museu do Aljube. A obra foi apresentada no Museu entre setembro de 2018 e abril de 2019; em julho de 2019, integrou o Festival Pedras’19, em Lisboa. Em 2020 recebeu o Apoio a Novos Criadores em Dança, da Fundação Calouste Gulbenkian para a criação de “O Nome Mais Belo do Medo”. Foi uma das artistas contempladas pelo Edital Arte Como Respiro, do Itaú Cultural (BR, 2020), produzindo a vídeo dança “Cartas Adiadas” (exibida no Festival Arte como Respiro, do Itaú Cultural e, em 2021, no canal do SESC Avenida Paulista). Em 2021 ministrou o curso A Cena da Dança na Ditadura Civil-Militar no Brasil, no SESC Avenida Paulista. Assina a direção de arte do álbum-filme “Tudo Começa Quando Explode”, de Raul Misturada. O primeiro single, Frágil Beleza, foi lançado em maio de 2021, e o álbum completo será lançado em julho de 2021. Atuou como intérprete e performer convidada em diversos trabalhos, entre São Paulo e Lisboa, como “Pátio” (c.e.m, 2018/2019), “Esquiva” (Cia. Oito Nova Dança, 2016), e as Aula-teatro (Nu-Sol, 2010-2017), nas quais também foi pesquisadora e preparadora corporal.
Duda Maia é formada pela Escola de Dança Angel Vianna, onde lecionou Dança Contemporânea durante 13 anos. Foi bailarina da Lia Rodrigues Companhia de Danças. De 1996 a 2004 dirigiu a companhia de dança contemporânea Trupe do Passo. Foi professora e coreógrafa do Centro Coreográfico do Rio de Janeiro. Foi professora de corpo do Curso Profissionalizante de Atores da Casa das Artes de Laranjeiras de 1998 a 2008. Atuou como diretora de movimento e assistente de direção com diversos importantes diretores do Rio de Janeiro, como João Falcão, Aderbal Freire-Filho, André Paes Leme, Paulo José, entre outros. É diretora e idealizadora da premiada trilogia musical “Três Histórias de Amor Para Crianças”, com os espetáculos “A Gaiola”, “Contos Partidos de Amor” e “Vamos Comprar Um Poeta”, do português Afonso Cruz com adaptação de Clarice Lissovski. Da companhia Barca dos Corações Partidos, dirigiu “AUÊ” e “Jacksons do Pandeiro”, espetáculo audiovisual com edição e transmissão em tempo real. Dirigiu “O Tempo Não Dá Tempo”, um híbrido de teatro, dança, performance e multimedia em homenagem aos 90 anos de Angel Vianna, com Angel e outros intérpretes. É diretora do aclamado musical “ELZA”; e Diretora Artística do espetáculo de Elza Soares, “Planeta Fome”, estreado no Rock in Rio 2019. Em 2021, dirigiu o videoclipe da música “Bombinha”, de Juliana Linhares.
©Fotografia NADJA KOUCHI
DANÇA
2O22 | JAN O8
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M/16
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