FAUSTLESS
Margarida Belo Costa
Em momentos de insegurança e/ou de conflito, surgem soluções lógicas que satisfazem mordomias humanas insaciáveis. O rumo que cada um toma como “caminho certo” é imprevisível, e o destino encarrega-se de o conduzir à sua sorte. Somos o que construímos – multiplicamos o que apreciamos. Para o bem e para o mal, havemos sempre de lidar com o eco do nosso pensamento.
Inspirado nas figuras femininas que integram a obra literária Fausto, de Goethe (1749-1832), “Faustless” reflete sobre o papel da mulher enquanto protagonista de vários quadros do percurso de um homem que é conduzido dramaticamente entre o bem e o mal. Estas mulheres têm em comum a função de “servir” a história de um homem que, de certa forma, se apropria da sua existência para seu usufruto, salientando que o seu objetivo primordial de vida é a “procura do conhecimento ilimitado”.
Partindo deste estímulo, as personagens femininas são convidadas a visitar a contemporaneidade, a questionar o seu papel histórico. Simultaneamente, é desenvolvido um paralelismo com um quotidiano próximo de qualquer episódio real, semelhante aos dias de hoje. Tornam-se humanas, transversais a qualquer religião, poder, raça e política. Dá-se a conhecer o potencial máximo de cada personalidade, criam-se ligações entre personagens outrora inexistentes, relações, visões semelhantes ou completamente díspares – deixam de ser goetheanas tornando-se dignas de uma história individual.
No âmbito de um percurso profissional emergente, a criadora, professora e bailarina Margarida Belo Costa tem-se afirmado no panorama nacional da dança apresentando várias obras independentes, em colaboração com outros artistas, e a convite de várias companhias, entre elas, a Companhia de Dança de Almada e a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo. Produzindo peças de dança há mais de quatro anos como pensante e amante de arte contemporânea, da reconstrução histórica de obras e tempos antigos, Margarida é tentada a explorar a obra literária, “Fausto”, de Johann Wolfgang Goethe, dissecando-a até à sua contemporaneidade. Depois de uma intensa pesquisa de literatura contemporânea dedicada a Fausto e das inúmeras recriações literárias e estudos sobre esta personagem, constatou-se que antes de se tornar uma personagem de obras literárias, teatrais esta persona outrora fora verídica. A lenda de Fausto é das mais difundidas na história da cultura ocidental, desde o século XV, época em que se encontram registos de vida de um médico, mago e alquimista alemão Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540).
Depois de conhecer a obra de Goethe, projetou-se a ideia primordial a desenvolver: o papel da mulher em Fausto. Constatou-se que as personagens femininas têm uma importância muito significativa no enredo – sendo elas a ligação para as grandes emoções do protagonista, conduzindo-o à loucura, ao amor, à paixão, à derrota, ao pecado, ao puro dramatismo e à salvação. Neste sentido, colocaram-se em questão várias ideias relativamente às personagens, criando diversas linhas de exploração dramatúrgicas, indo ao encontro das suas histórias. As personagens femininas, desde Gretchen à sua mãe, de Helena de Tróia à bruxa, têm em comum a função de “servir” a história de um homem que de certa forma se apropria da sua existência para seu próprio usufruto, sendo o seu objetivo primordial a “procura do conhecimento ilimitado”. O papel destas mulheres pode ser avaliado em dois extremos, os dois polos mais acarinhados pelo dramatismo: o bem e o mal. Partindo deste estímulo, procurou-se conduzir estas personagens ao mundo contemporâneo, questionando: quem poderão ser além da sua vida em Faust, uma vida real. Num quotidiano próximo de qualquer imagem feminina, tornaram-se humanas, transversais a qualquer religião e ideologia política. Procurou-se conhecer o potencial máximo de cada personalidade, criando ligações entre personagens, relações, visões semelhantes ou completamente díspares, deixando assim, de ser goetheanas tornando-se dignas de uma história individual.
“Comecei a tentar perceber porque é que essas personagens não poderiam ser também principais, no sentido de olhar da perspetiva delas para a história. Como é que elas sentem cada episódio, cada momento, cada quadro da obra? O que fui tentar pesquisar e tentar absorver ao máximo foi como é que aquelas mulheres interferiam na vida do Fausto. Obviamente que depois fui-me desligando cada vez mais do Fausto, até que tentei começar a trazer a própria personalidade dessas mulheres e trazê-las para um quotidiano, trazê-las para um contemporâneo, para os dias de hoje. Trazer aquelas sensações, daquelas vivências, daqueles episódios, para os dias de hoje”, partilha, com o Gerador, a coreógrafa Margarida Belo Costa.
Direção Artística e Coreografia MARGARIDA BELO COSTA
Interpretação ESTER GONÇALVES, MARGARIDA BELO COSTA E RITA CARPINTEIRO
Música EGNAR KANDING, HILDUR GUÐNADÓTTIR, JOÃO DOMINGOS BOMTEMPO, JOHANN SEBASTIAN BACH, PAN SONIC, PLEQ E WILLIAM BASINSKI
Direção Técnica e Desenho de Luz FILIPA ROMEU
Apoio ao Conceito e Dramaturgia ELSON FERREIRA
Figurinos MARGARIDA BELO COSTA E IRYNA BILENKA
Fotografia CARLOS FERNANDES
Vídeo TOMÁS PEREIRA
Apoios FUNDAÇÃO MARIA MAGDALENA DE MELLO E CAB – CENTRO COREOGRÁFICO LISBOA
Espaço de Ensaios PRO.DANÇA, DANCESPOT E BALLETVITA
MARGARIDA BELO COSTA é natural de Caldas da Rainha, Margarida Belo Costa, reside em Lisboa há mais de uma década. Bailarina, coreógrafa e professora de dança, tem desenvolvido projetos artísticos a nível nacional e internacional desde 2012, com várias entidades – Companhias de Dança, Teatro, Escolas de Dança – entre outros projetos multidisciplinares e de investigação. Diplomada pela Royal Academy of Dance, os seus estudos desenvolveram-se paralelamente com a Dança Moderna e Contemporânea. Em 2004 ingressou como bailarina no Grupo Experimental de Dança (EVDCR). Licenciada pela Escola Superior de Dança, termina o 1º ano do Mestrado Profissionalizante em Educação ESD-IPL. Como intérprete, trabalhou com várias companhias, destacando as digressões nacionais e internacionais (Luxemburgo, Roménia, Dinamarca, China, entre outros. Colaborou com: Companhia Quorum Ballet (2013/14); Teatro Mosca (2014/15 e 2019); Teatro Meridional (2016); ACSC António Cabrita e São Castro (2016); Companhia de Dança Contemporânea de Évora (2017/2018); Teatro Nacional São Carlos (2018); Companhia Paulo Ribeiro (2018/2019); O Espaço do Tempo (2019) e Henriett Ventura e Xavier Carmo (2019). Como criadora, apresentou as peças: “Step 1” para o GED-EVDCR (2012); “displaced episodes” – BOX NOVA – Centro Cultural de Belém (2015); “Fall Out” – Projeto Quorum (2016); “The Place To Be” para a D.C. Companhia Jovens Bailarinos (2016); cocriou a peça “Who Do You Want To Be Today?” com Elson Ferreira para o Festival MUSCARIUM# 2 (2016); “Excuse Me Sir, How Many Stories Can Fit In This Hotel Room?” para a Companhia Projeto M (2017); “Too Loud Too Specific” em cocriação com Elson Ferreira (2018); “Promise” (2018) para a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo; “p.s. Carmen” para a Companhia de Dança de Almada (2018); “Our Last View” para o Teatro Alighieri, Ravenna, Itália (2019) e “Unplug” para Performact – Torres Vedras (2019). Professora em várias escolas de dança em Lisboa, foi convidada a lecionar em cursos e workshops, destacando: Escola Superior de Dança, IPL; Estúdios Vitor Córdon; CAB – Centro Coreográfico Lisboa; Escola da Companhia de Dança de Almada; Quorum Academy; Academia Mdance; Dance Factory; Studio K; Orfeão de Leiria; Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella Sanchez; DNA – Dance N’ Arts; Formação Olga Roriz – FOR Dance Theatre; PLATE-FORME AWA -Luxemburgo; Be Summer – Performact, Ent’Artes, entre outros. De momento leciona na Escola Superior de Dança (IPL), FOR Dance Theatre – Formação Olga Roriz, Academia Mdance e Dance Factory Estúdios.
ESTER GONÇALVES iniciou o seu percurso na dança em 2011, aos 14 anos de idade com aulas de dança clássica e contemporânea na Quorum Academy. Desde 2012 a 2014 que integra o “Projecto Quorum”, uma jovem companhia criada pela academia de dança, trabalhando com coreógrafos como: Daniel Cardoso, Gonçalo Lobato, Elson Ferreira, Filipe Narciso, Inês Godinho e Jácome Filipe, tendo a oportunidade de apresentar, também, algum repertório da companhia Quorum Ballet. Em 2013 é convidada a frequentar as aulas da Quorum Ballet, e em 2014 entra como estagiária e participa nos ensaios e espetáculos da companhia. Em 2015 torna-se membro da companhia como bailarina profissional e até julho de 2018 participou em todos os espetáculos e criações (nacional e internacionalmente), incluindo uma residência internacional de um mês na China em janeiro de 2018 com a coreógrafa Xie Xin, e trabalhos de Donald Byrd, Daniel Cardoso, Jácome Filipe, Elson Ferreira e Inês Godinho. Com a companhia atuou em Portugal, Dinamarca, China, Finlândia, Alemanha, Suíça, Espanha e Roménia. Em julho de 2018 torna-se freelancer e participa na “Metamorphosis International Residency” com Iratxe Ansa e Igor Bacovish, integra o elenco da nova criação da Companhia de Actores, “A Dança das Raias Voadoras” e da Ópera do Teatro Nacional de São Carlos “Alceste”, uma obra de Gluck. Em setembro de 2019 participou na criação “Last” de São Castro e António Cabrita, na Companhia Paulo Ribeiro, e em novembro integrou o elenco de “Orphee et Eurydice” com encenação de Denis Chabroullet e direção coreográfica de São Castro e António Cabrita, em Paris. Em novembro de 2020 fez parte da nova criação “Faustless” de Margarida Belo Costa. Em janeiro de 2021 começa a lecionar e a coreografar para o “Projeto Quorum”.
RITA CARPINTEIRO inicia os seus estudos de dança na Academia de Dança Contemporânea (ADCS), formando-se em 2013. Nesse mesmo ano, é considerada Jovem Revelação na área da Dança pela cidade de Setúbal. Em 2012 foi estagiária (formação em contexto de trabalho) na Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo (CPBC). Em 2015 participa no Intensive Gaga Course, em Turim. Em 2019 conclui a licenciatura em Marketing e Publicidade pelo IADE – Universidade Europeia. Em 2013 integra o elenco da CPBC onde interpreta “Fado, Ritual e Sombras” de Wellenkamp que segue em tour pelos EUA nomeadamente, Scottsdale Center for the Performing Arts (Arizona) e J.F.Kennedy Center for the Arts (Washington DC). Na CPBC trabalha com São Castro em “As Quatro Estações”, Cláudia Sampaio em “Pic Nic”, André Mesquita em “Black Sun”, Margarida Belo Costa em “Promise” e Miguel Ramalho em “The Ball”. Em 2015 cria, para a Pequena Companhia/Little Company da ADCS, as peças “Paredes de Vidro” e “(E)Motion”. Ainda em 2015 dança o projeto “Forgotten Fog” de Diana Bastos Niepce. Em 2016 interpreta “Who do you want to be today?”, dueto criado por Margarida Belo Costa e Elson Ferreira. Ainda em 2016 participa no projeto D.C – Companhia de Jovens Bailarinos de Gonçalo Almeida Andrade onde trabalha com os coreógrafos Margarida Belo Costa em “The Place to Be” e Vasco Wellenkamp em “Visões Fugitivas”. Em 2018 cocria e interpreta, com Margarida Belo Costa, Guilherme Leal e Elson Ferreira a peça “Too Loud, Too Specific”. Em abril de 2018 é convidada pela companhia inglesa Jean Abreu Dance para interpretar o dueto “Solo for Two” com estreia em SouthBank Centre (Londres) e seguindo em tour por Inglaterra. Ainda em Londres, é convidada por Sally Marie e Mark Mallabone a integrar “The Last”, um processo de pesquisa coreográfica. Atualmente, para além de bailarina, é também a responsável de Comunicação e Imagem da CPBC.
©Fotografia CARLOS FERNANDES
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M/O6
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