Temps d’Images: Open Access 2020
DuplaCena
As mudanças tecnológicas e digitais estão a impactar profundamente o nosso quotidiano e a forma como as utilizamos. Quer os artistas, quer as instituições são afetados nos seus métodos de trabalho e processos de criação e produção. Estas questões, reequacionadas no contexto da atual pandemia, alteraram a relação com o público.
A Duplacena propõe ao público que faça parte desta reflexão, participando ativamente na apresentação do projeto Europeu Open Access – Experimentação em artes performativas e criação transmédia. Apoiando-se numa lógica coletiva e colaborativa para criar uma nova história partilhada, a interdisciplinaridade e a participação do público estão incorporadas na matriz do projeto que tem como resultado a criação de oito protótipos artísticos. O processo experimental escolhido foi o de integrar a criação transmédia nas várias disciplinas das artes performativas.
Devido à situação provocada pelo coronavírus, que não nos permitiu manter, no âmbito do projeto, a mobilidade artística, convidámos artistas internacionais a adaptar os seus protótipos. Em Lisboa, foram apresentados works in progress do trabalho artístico, sendo o público convidado a dar feedback para que venha depois a ser integrado na versão final do projeto.
Três trabalhos contaram com a presença dos seus autores, sendo que os restantes participaram num formato híbrido. Os artistas internacionais foram desafiados a trabalhar à distância, a partir dos seus países, muito embora sejam acompanhados por colaboradores locais, ou a apresentar o seu trabalho em live streaming ou instalações de vídeo.
Foi uma oportunidade de partilhar um tempo privilegiado com o público, durante o qual cada artista propôs um contributo, um momento de partilha e de imersão no seu projeto. Os protótipos podiam ter o formato de um jogo, ser uma narrativa mais ou menos ficcional, ou um encontro poético sensorial, entre outas possibilidades. O feedback do púbico foi integrado no processo de criação e, desta forma, cada espetador ficou associado, se assim o desejou, a esse trabalho.
Porquê transmédia?
O processo experimental escolhido foi o de integrar a criação transmédia nas várias disciplinas das artes performativas. O transmédia permite aos artistas construir uma história, usando tudo o que vem do nosso quotidiano, através de diferentes media. Cada ferramenta tecnológica influencia os conteúdos de forma distinta, não para os replicar, mas sim para enriquecer a história, de forma a oferecer uma experiência global ao público através da multiplicidade de conteúdos, que são inerentes ao seu desenvolvimento. A experiência torna-se num “campo de jogo” para os artistas das artes performativas, contribuindo para o desenvolvimento de novas estéticas, mas também para que o público possa experimentar, ter um papel, contribuir, escolher, e contar histórias.
Esperamos que esta forma de colaboração e os novos métodos de produção e partilha venham a levantar questões sobre os desafios sociais que enfrentamos, e os possíveis caminhos futuros.
Artistas ALISON NEIGHBOUR (Reino Unido), CLARA CHABALIER (França), JOÃO ESTEVENS (Portugal), MARION THOMAS (França), MATEJA STANISLAVA ROT (Eslovénia), OLINDA FAVAS (Portugal) e RALUCA CROITORU (Holanda/ Roménia)
Parceiros na Cocriação do Projeto LE GRANIT (Belfort, França), líder de projeto | NATIONAL THEATER OF WALES (Cardiff, Reino Unido) | COLECTIV A (Cluj, Roménia) | DUPLACENA (Lisboa, Portugal)
PROGRAMA:
UM (FUTURO) CAMINHO COSTEIRO NO PAÍS DE GALES (UMA JORNADA E UM ENCONTRO NO ESPAÇO PÚBLICO)
Alison Neighbour
INSTALAÇÃO
Horário entre as 17H00 e as 19H30;
Local Sub-palco;
Lotação máxima 10 pessoas em simultâneo.
Em resposta à crise da lenta subida do nível do mar que está a acontecer em todo o mundo, Alison convida o público para uma jornada através da paisagem, para que possa considerar o que podemos perder ou ganhar. Como é que nos adaptamos e aceitamos a mudança?
DEFESA PARA ALÉM DA SOBREVIVÊNCIA
Clara Chabalier
INSTALAÇÃO, PERFORMANCE E DISPOSITIVO DE DIÁLOGO SER HUMANO/MÁQUINA
Horário 17H00 às 19H30;
Local Foyer
“The Defense beyond Survivors” (Defesa para além da Sobrevivência) propõe à audiência seguir o processo de escrita do narrador de “A Invenção de Morel”, que, fascinado com as narrativas neomalthusianas sobre sobrepopulação, quer arranjar argumentos que poderiam defender a nossa geração. E se tivesse que contar, não só com os vivos, mas também com as imagens que criamos e que nos perseguem – fantasmas da tecnologia?
Projeto inspirado na novela de Adolfo Bioy Casares, “A Invenção de Morel”.
Colaboração técnica e artística de Johan Lescure. Participação de Gérard-François Dumont, demógrafo, professor na Universidade Paris-Sorbonne (Paris IV) e diretor da revista “Population & Avenir”; Camille Alloing, professor no Departamento de Comunicação Social e Pública na Université du Québec à Montréal (UQAM), autor de vários livros sobre “E-Reputação”; Fanny Georges, Mestre de conferências em Ciências da Informação e Comunicação, Laboratoire CIM-CEISM. Responsável pelo Mestrado 1 em Comunicação na Universidade Sorbonne Nouvelle-Paris 3. Faz investigação em representações numéricas; Charlotte Debest, Doutorada em Sociologia, coautora de “Childlessness: A life choice that goes against the norm.”
Projeto apoiado pelo CNC-DICRéAM
VALE MISTERIOSO
João Estevens
INSTALAÇÃO VÍDEO
Horário: 17H30 e 18H30 – duração aproximada de 30m;
Local Sala Experimental;
Lotação máxima 22 pessoas. Reserva obrigatória.
“Uncanny valley” (Vale Misterioso) é uma instalação performativa (um trabalho em progresso) que acompanha a migração do performer, e se debruça sobre uma transição performativa do mundo físico para o mundo digital, com o propósito de mostrar como as ferramentas e interações digitais afetam a nossa perceção.
KIT DE SOBREVIVÊNCIA EM TERRITÓRIO MASCULINO
– ADIADO DEVIDO À PREVISÃO DE CHUVA
Marion Thomas
PERCURSO PERFORMATIVO
Horário 18H00;
Local Centro Cultural da Malaposta e arredores;
Lotação máxima 10 pessoas. Reserva obrigatória.
Marion oferece-nos uma visão alternativa das lutas feministas: a do inimigo. O público, equipado com auscultadores, faz uma visita guiada num espaço urbano para explorar o mundo dos incels*. Esta experiência conjuga a história pessoal com a de um incel. Ao longo deste percurso, cada espetador poderá desenvolver uma visão pessoal da experiência de aceder aos mistérios masculinistas.
*A subcultura incel (um neologismo de involutary celibates) difunde-se nas comunidades online misóginas, cujos membros se definem por não terem a possibilidade de encontrar uma parceira, seja para um romance ou para ter sexo. Os que se autointitulam incels são quase exclusivamente homens, que se encontram na internet à volta de uma causa comum: o ódio às mulheres.
Este trabalho implica a utilização do smartphone + headphones + conexão à internet dos participantes
Esta atividade realizou-se apenas no dia 8 de Novembro
SEM TÍTULO
Olinda Favas
INSTALAÇÃO VÍDEO
Horário 18H00 e 19H00, duração aproximada de 30m;
Local Sala Experimental;
Lotação máxima 12 pessoas. Reserva obrigatória.
Olinda Favas propõe uma viagem onírica a partir de retratos de sonhadores, reais ou ficcionais, realizados no momento misterioso da transição entre vigília e adormecimento. É neste limiar material-imaterial e no diálogo inconsciente-consciente que sonhamos. Este é domínio do simbólico e da memória que o espectador pode explorar nesta instalação.
FLUTUAÇÃO NEUTRAL
Raluca Croitoru
INSTALAÇÃO SONORA
Horário das 17H00 às 19H30, em loop;
Local Black Box;
Lotação máxima 10 pessoas em simultâneo.
Esta instalação consiste numa paisagem sonora que estabelece uma conexão entre corpos na água com corpos de água, através de uma imersão especulativa, mediada tecnológica e fisicamente. Estabelece-se um diálogo entre sons corpóreos, terrestres e submersos, no qual a fluidez substitui as predileções pelo que é sólido e fixo.
Alison Neighbour, artista e cenógrafa do País de Gales, Alison cria instalações e performances comprometidas socialmente e reativas ao lugar. A cenografia interessa-lhe como ponto de partida para contar histórias, e procura oferecer espaço às audiências de forma a que sejam cocriadores do trabalho.
Clara Chabalier é uma encenadora e atriz baseada em França. Cria trabalhos transdisciplinares e teatro contemporâneo. Licenciou-se na Regional Actors School, em Cannes e no Conservatoire national supérieur d’art dramatique (CNSAD). O palco é, para ela, o lugar onde o mundo virtual é integrado na realidade, através da dança, da música, da fotografia e das artes visuais.
João Estevens é um performer e investigador português baseado em Lisboa. A sua prática artística foca-se nas novas dramaturgias e no hibridismo, combinando artes performativas e multimédia. Os tópicos do seu trabalho são: a fragilidade do ser humano, o poder, e a cibercultura.
Marion Thomas, autora, encenadora e performer, divide o seu tempo entre Nantes e Lausanne. Estudou teatro na La Manufacture – Haute école de théâtre de Suisse romande. Achando que realidade é um desapontamento, encontra-se na internet com pessoas bizarras. A partir destas deambulações virtuais, Marion retira os pontos de vista que mais tarde integra em narrativas mais amplas, de forma a criar espaços de atrito e conciliação. Gosta de videogames, construtivismo, cavalos, e ficção científica feminista.
Olinda Favas é atriz, performer, docente e encenadora. Olinda encontra na expressão: “E se…” a simples formulação que lhe abre possibilidades na vida e na arte. Esta expressão reflete-se também no seu trabalho multidisciplinar, no qual o erro, a fragmentação e as presenças se desenrolam numa interseção poética e performativa.
Raluca Croitoru é uma artista visual e performer originária de Constanta, Roménia, mas atualmente vive e trabalha em Roterdão. A sua prática artística combina uma abordagem multidisciplinar entre os campos da arte, da coreografia e da performance. Interessa-se pela relação entre o corpo e as estruturas de poder, especialmente as especificidades do corpo sob o sistema capitalista.
PARCEIROS:
GRRRANIT
Oferece uma plataforma transdisciplinar, intergeracional e de programação digital nas artes visuais e nas artes performativas: teatro, dança, circo, música, comédia e debate, em Belfort. Grrranit acolhe residências e produz e acolhe espetáculos nacionais, internacionais e europeus.
A programação da temporada 2020-21 consiste em mais de 50 espetáculos e 100 performances: 16 criações, 2 festivais, 4 exposições, e vários eventos e debates. O Grrranit tem 4 auditórios, com lotações entre os 120 e os 850 lugares, e uma galeria de exposições.
NATIONAL THEATRE WALES
Apresenta produções em língua inglesa em todo o País de Gales, no Reino Unido, em palcos internacionais, e online, desde março de 2010. O seu pequeno centro de produção está situado no centro da cidade de Cardiff, mas desenvolve trabalho em todo o território, usando a bela e diversificada paisagem do País de Gales, as suas pequenas e grandes cidades, bem como as suas aldeias, as suas histórias incríveis e o talento das suas gentes como inspiração.
COLECTIV A
ONG cultural sediada em Cluj, Roménia. Com as suas atividades, o Colectiv A participa no desenvolvimento da cena cultural local, através da organização de laboratórios de pesquisa, workshops de dança contemporânea, produção de performances interdisciplinares, residências artísticas e projetos culturais participativos.
DUPLACENA
Estrutura com a missão de produzir, promover e apoiar a criação artística, de festivais, espetáculos multimédia, interdisciplinares e multidisciplinares, bem como promover a pesquisa técnica associada a estas disciplinas artísticas. A sua atividade principal é o festival Temps d’images – Lisboa, que começou como uma rede Europeia, e que se realiza todos os anos, apresentando um programa que abarca vários géneros artísticos em diferentes espaços da cidade, e que se foca na relação entre artes performativas e imagem.

