Branca de Neve

BRANCA DE NEVE

de João César Monteiro

Branca de Neve é acordada pelo príncipe da sua aparente morte com um beijo. Depois de deixar o caixão de vidro confronta a rainha, o caçador e o príncipe com as suas angústias e perplexidades. Chega mesmo a desejar regressar para a paz e harmonia dos tempos em que vivia com os anões na floresta e acaba por perceber que é estreita a linha que separa o amor do ódio. Partindo da adaptação ao cinema de um texto do escritor suíço Robert Walser, por sua vez construído a partir da celebérrima história encantada dos irmãos Grimm, em que refletia sobre as dúvidas, perplexidades e angústias da Branca de Neve, João César Monteiro criou um filme absolutamente desconcertante. Mais, realizou um filme que é um verdadeiro exercício de anti cinema. Branca de Neve dura os 75 minutos da declamação do texto de Walser, como se se tratasse de um drama radiofónico. Com exceção dos genéricos, inicial e final, de uma meia dúzia de planos de céu com escassos segundos, uma panorâmica sobre umas ruínas e um plano final de Monteiro, Branca de Neve é um filme a negro. Na verdade, Monteiro decidiu fazer um filme praticamente sem imagens, obrigando os espectadores a ver coisa nenhuma num écran vazio. Não se vê atores, nem guarda roupa, nem adereços, nem décors. Apenas se ouvem os diálogos. Foi esta a opção estética e artística de Monteiro para a sua Branca de Neve, que alimentou muita polémica sobre a natureza, as convenções e os rumos do audiovisual que é, no limite, uma experiência pessoal, radical e provocatória tão sui generis como sempre foi a vida e obra de João César Monteiro.

João César Monteiro nasceu em fevereiro de 1939 em Lisboa e foi um cineasta português. Integrou o grupo de jovens realizadores que se lançaram no movimento do Novo Cinema. Irreverente e imprevisível, fez-se notar como crítico mordaz de cinema nos anos 1960. Prosseguiu a tradição iniciada por Manoel de Oliveira (“Acto da Primavera”) ao introduzir no cinema português de ficção o conceito de antropologia visual — “Veredas” e “Silvestre” —, tradição amplamente explorada no documentário por outros cineastas portugueses como António Campos, António Reis, Ricardo Costa, Noémia Delgado ou, mais tarde e noutro registo, Pedro Costa. Segue um percurso original que lhe facilita o reconhecimento internacional. Várias das suas obras são representadas e premiadas em festivais internacionais como o Festival de Cannes e o Festival de Veneza (Leão de Prata: “Recordações da Casa Amarela”).

CINEMA

2O21 | DEZ O3

SEX – 2OH3O

SALA DE CINEMA

4€ [PREÇO ÚNICO]

75 MINUTOS

M/12

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